Taxas Moderadoras

sábado, 7 de março de 2009


Em 2007 surgia uma polémica gerada pelo polémico Ministro da Saúde Correia de Campos. Junto de um pacote de medidas que prometia revolucionar o sistema nacional de saúde, encontrava-se as taxas moderadoras.

Como o seu nome indica, o objectivo destas taxas, e entenda-se que uma taxa é diferente de um imposto, seria moderar/limitar o acesso dos utentes ao serviço nacional de saúde. O pretexto invocado resultava de uma ideia generalizada e, a meu ver, bem fundada, de que as pessoas se não tivessem um custo ou prejuízo associado à ida à urgência, estariam lá por todos e quaisquer motivos.

Pretendendo cingir-me apenas, e somente a esta medida tomada na área da saúde, defendo a sua utilização, sobretudo quando existem meios alternativos para as pessoas levantarem as suas dúvidas ou mesmo tratarem-se. Segundo o meu ponto de vista é, exactamente, isto que foi concebido, pois aqueles casos menos problemáticos podem ser resolvidos nas novas USF ou restantes postos médicos abertos até às 20 horas, e mesmo algumas questões/dúvidas podem ser solucionadas com a linha Saúde 24. Com estas duas medidas permitiu-se que muitas pessoas pudessem resolver os seus problemas na sua terra, não “entupindo” os hospitais.
Outra questão, prende-se com a constatação de os hospitais como o da Feira e grandes centros urbanos, encontrarem-se muito lotados nas urgências e, por esse motivo, não se contemplar a eficácia das Taxas Moderadoras. Perante esta situação, não nos podemos esquecer que apesar de tudo, à custa do encerramento de alguns hospitais “economicamente menos viáveis” se conseguiu um certo equilíbrio no poço sem fundo que era a saúde. Alias, acerca deste aspecto, deixem que vos diga que não podemos nem devemos ser inconscientes ao ponto de pedir todos e quaisquer hospitais, a fim de conseguirmos que algumas populações se sintam mais “seguras”, à custa de muitos milhões de euros a mais.

Voltando às taxas moderadoras, elas de facto consagram o efeito para o qual foram criadas, nas consultas médicas e urgências, pois aí, efectivamente, existe a possibilidade de escolha, contudo quando nos debruçamos sobre as cirurgias, a questão é ligeiramente diferente, pois ninguém gostaria de ser operado, sem ser necessário. Neste último caso, as taxas moderadoras assumem-se como um meio de co-financiamento do sistema de saúde, não surtindo como moderadoras.

Na realidade não vejo assim tantas injustiças sociais na aplicação destas taxas, porque de facto, elas representam apenas 1% da despesa total da saúde e cerca de 50% da população Portuguesa beneficia de algum tipo de isenção ou redução de taxa; alias, se um sistema público e de utilidade fundamental como é o caso do sistema de saúde, está em dificuldades financeiras, porque razão as pessoas com mais posses não poderão ajudar à sua sustentabilidade com uma quantia quase simbólica?

Relativamente aos argumentos de inconstitucionalidade, sinceramente não sei porque se continua a insistir no mesmo, o que a constituição diz é que o sistema nacional de saúde deverá ser tendencialmente gratuito, sendo diferente de gratuito, propriamente dito.

Art. 64, nº2, a) CRP: O direito à Saúde é realizado, através de um serviço nacional de saúde universal e geral e, tendo em conta as condições económicas e sociais dos cidadãos, tendencialmente gratuito;
A saúde deve ser gerida tendo em mente a racionalidade, mas esquecendo o lucro!

2 comentários:

O Conspirador disse...

Caro Daniel,
O serviço Nacional de Saúde deve ser tendencialmente gratuito e não tendencialmente pago.Os diversos governos neoliberais desde o CDS,PSD e PS mais não têm feito que desmantelar o SNS, aliás um dos poucos serviços públicos do qual Portugal durante anos se pôde orgulhar. O acesso aos cuidados de saúde deve ser universal e gratuito, a saúde das pessoas não pode obedecer à lógica do rentismo económico.
Quando se fala em buraco sistémico na saúde, talvez importasse perceber a forma como são geridos os dinheiros públicos nos hospitais, os negócios pouco claros que se fazem com as novas gestões semi-privadas e pior do que isso o desvio endémico de consumíveis dos hospitais para os consultórios de médicos particulares.Os buracos não devem ser tapados à custa dos cidadãos, já que ao contrário daquilo que escreves não são 50% de Portugueses isentos, onde é que foste buscar esses números?
O que leva muita gente aos serviços de urgência, sem que de verdadeiras urgências se tratem, é o facto de não disporem de acesso a médicos e a cuidados de saúde básicos, não julgues que as pessoas vão para os hospitais de ânimo leve, a taxa moderadora a pagar custa quase 10 euros num episódio de SU. As USF só funcionam até às 8 horas da noite e não existem em todo o lado. Então e os utentes dos centros de saúde e das USF também não pagam taxa moderadora?
A linha 24 horas do MS deve ser fantástica para resolver os problemas de enxaquecas e dores menstruais, agora se estiveres à espera de um diagnóstico para resolver um problema qualquer, através do telefone, vais longe!é este o tipo de SNS de tu queres? A lógica do governo com estas reformas não é a sustentabilidade do SNS é a sua destruição pura e simples. Existem interesses económicos de toda a ordem ligados à saúde, que são apetecíveis para os privados, veja-se o caso do BES SAÚDE.
A privatização dos serviços de saúde, irá excluir os mais pobres e necessitados, aqueles que não têm dinheiro para contratar seguros de saúde, nem para pagar pequenas fortunas por uma simples consulta médica.
Um estado social tem a obrigação de permitir o acesso com qualidade a serviços de saúde indiscriminadamente, não é fazer aquilo que se assiste em muitos hospitais onde os doentes são mal atendidos com a lógica de os obrigar a recorrer aos privados.
Concordo contigo quando dizes que a saúde não deve ter implícito o factor lucro, mas achas verdadeiramente que essa é a lógica dos privados? Repara o que o neoliberalismo fez à saúde dos Americanos mais pobres e desfavorecidos, uma autêntica miséria social que deveria fazer envergonhar a nação mais poderosa e imperialista do mundo.

Muito mais haveria a dizer, mas para já fico por aqui, na certeza porém, que temos ideias diametralmente opostas relativamente à forma como deve ser gerido o SNS.
Cumprimentos

Daniel Gomes disse...

Caro Comendador,

Tens razão, enganei-me. Não é isenção, mas sim redução para 50% da taxa moderadora e, sendo assim, já não seria 50% da população portuguesa que estaria isenta.
Os idosos com mais de 65 anos têm isenção de 50% da taxa, pelo que sendo eles quase 2 milhões, constituiriam 20% da população nacional. Os outros 10% seriam constituídos pelas crianças com menos de 12 anos, que estão totalmente isentas, e os restantes seriam os demais isentos presentes no Decreto-Lei n.o 173/2003 de 1 de Agosto artº2.
Evidentemente que preferia viver num país onde todos pudessemos aceder aos SNS gratuitamente e com qualidade, mas a realidade é bem diferente e não podemos ficar indiferentes às contas do SNS.
Eu não sei se o buraco financeiro é ou não provocado por esses desvios que alguns médicos fazem, mas o malogro é tão grande que julgo impossível que fossem os médicos responsáveis por isso. E as parcerias público-privadas são factos mais recentes, e o mal das contas na saúde já tem barbas.
O problema é estrutural e coloca-se a questão: se queremos um SNS ao nível dos países Escandinavos, estaremos dispostos a descontar entre 60 a 70% do ordenado?
Eu um dia não me importaria de o fazer, para ter o nível de vida que eles têm, mas o que eu ouço dos partidos portugueses é apenas baixa de impostos, porque ninguém quer ser impopular.
Certamente, teremos outras ocasiões para discutir um pouco melhor.

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  © Feira das Conspirações! - Santa Maria da Feira - Portugal - Maio/2008

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