Santa Maria da Feira - O que fazer com 145000€?

domingo, 4 de janeiro de 2009


A pergunta parece pertinente. Quando o país mergulha numa crise financeira profunda, onde as dificuldades pairam sobre cada um de nós como se de uma penitência divina se tratassem, temos alguns gestores de imagem à frente das autarquias, que não olham a meios para se auto-promoverem.

Vem isto a propósito do mais recente boletim municipal, que a autarquia de Santa Maria da Feira fez chegar a milhares de caixas de correio espalhadas pelo concelho.

O boletim mais não é que uma revista de propaganda pré-eleitoral, um extenso enunciado de obras prometidas em anteriores mandatos, mas que entretanto passarão a ser promessas meticulosamente preparadas para o próximo programa de propostas, com que se apresentarão ao eleitorado.

Convém recordar aqui, aquilo que foi dito pelo Presidente da Câmara da Feira na mais recente Assembleia Municipal de 28 de Dezembro.

Segundo Alfredo Henriques, a impressão gráfica dos próximos boletins municipais, num total de 5, foi submetida a concurso público pelo valor aproximado de 120000€, se acrescentar-mos a esta quantia o valor de 25000€, que foi quanto custou a 1ª edição (esta feita em contrato, por ajuste directo e não por concurso público, como de forma pouco rigorosa , o presidente da Câmara quis fazer crer) obtemos a quantia total de 145000€.

É preciso ter a noção exacta de que este dinheiro sai directamente dos cofres municipais, por conseguinte, dos bolsos de todos os contribuintes feirenses, para financiar em bom rigor, parte da campanha de propaganda pré-eleitoral até às eleições.

O que fazer com 145000€ ?

Antes de mais, é preocupante saber que este valor que é gasto na exultação de feitos, que em boa verdade são promessas não cumpridas ou por cumprir, é superior ao orçamento que muitas freguesias dispõem para fazer face às suas despesas.

Este dinheiro permitiria minorar o esforço financeiro, que muitas famílias de baixos recursos têm que suportar para pagar o IMI.

Este e outros dinheiros que são desperdiçados na autarquia, sem que os munícipes de forma geral, retirem daí qualquer proveito, poderiam servir para melhorar o parque de habitação social do concelho, que é uma lástima.

Poderia ainda servir para engordar o orçamento dos programas de acção social, que nos próximos tempos, serão por certo submetidos a uma taxa de esforço suplementar, em resultado das repercussões sociais que se adivinham com a crise económica, ao nível do desemprego, do sobreendividamento das famílias, da pobreza extrema, da exclusão social, etc.

Porque não aplicar o dinheiro, na melhoria das infraestruturas escolares, num concelho que a este nível é tristemente recordado por ser um dos que mais contentores tem adaptados a salas de aula?

Porque não juntar este dinheiro para aliviar o esforço financeiro das famílias que se pretendem ligar às redes de água e saneamento?

Só para se ter uma noção do que aqui está em causa, vejamos este exemplo:

Qualquer consumidor doméstico normal, só para ter acesso a água canalizada e saneamento básico (onde ele existe), tem que dispender à volta de 800 €, ora com 145000€ era possível ligar 1000 famílias com uma redução de 18% no valor a pagar.

Muitas outras soluções seriam por certo mais interessantes para os munícipes, do que o simples esbanjar de dinheiro em propaganda.

É por esta razão que não acredito num concelho que se pretende engrandecer com a vaidade, com a ilusão e com o desperdício de bens que são públicos.

Não acredito que este concelho se promova, com a ilusão da "Terra dos Sonhos", com o imaginário medieval, com a massificação de eventos pseudo-culturais desfasados de uma realidade cultural concelhia menos pomposa e mais deprimente. Não basta envolver massivamente as pessoas à volta de eventos, que têm propósitos marcadamente financeiros e propagandísticos, para se auto-intitularem de eventos culturais.
Que substrato cultural subsiste da Viagem Medieval?

O investimento é feito a pensar no dinheiro que pode ser realizado com a vinda de gente ao evento, dinheiro esse vital para o desenvolvimento da actividade de muitas associações que lá estão representadas e não tanto em promover uma identidade cultural feirense.

Não acredito num concelho onde muitos alunos do 1º ciclo têm aulas em contentores metálicos, em salas com cobertura de amianto e em escolas que ameaçam ruir.

Não acredito num concelho, que não tem disponíveis infra-estruturas básicas de saneamento, onde muitas pessoas não têm acesso a água potável, onde os rios estão transformados num esgoto a céu aberto, onde as lixeiras se multiplicam, onde os escassos espaços verdes não são preservados, onde os lençóis freáticos estão irremediavelmente contaminados para muitas décadas, etc,etc,etc,...

Por fim e porque muito mais poderia ser dito em contraponto a este vergonhoso boletim municipal, que faz deste concelho um paradigma de vanguarda, semelhante aos paradigmas da Madeira e de muitos países da África, Caraíbas e Pacífico; não queiram ao menos promover a vossa imagem e a do concelho à custa do alheamento e da desinformação das pessoas nestas questões, criando cegueira, ilusão e sonho num contraste evidente com a realidade.

Basta estar atento ao que nos rodeia, para perceber isto mesmo!

PUBLICAÇÃO : O GADANHA

1 comentários:

Anónimo disse...

Foi interessante essa abordagem comparativa dos dinheiros, muito bem visto de facto!

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