Linha do Vale do Vouga - 100 anos de história, que futuro? (Parte I)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008



Linha do Vouga 100 anos passados, rumo ao futuro?

Tem-se ouvido nos últimos tempos, muita gente a falar da linha do vale do Vouga. A esta constatação, não será por certo alheio, o facto de a linha comemorar 100 anos no próximo dia 23.
Do que tenho ouvido, espanta-me sobretudo, a tremenda ignorância de alguns agentes politico-partidários locais, relativamente a tudo o que envolve esta linha.

Em primeiro lugar é preciso distinguir a CP da REFER.
A REFER, resultou do desmembramento da CP e foi criada pelo Decreto-Lei n.º 104/97 de 29 de Abril de 1997. A REFER é a empresa pública que está responsável por toda a gestão e manutenção da infraestrutura ferroviária nacional.

A CP faz a gestão comercial das linhas em termos de passageiros e bilheteira, tem ainda a seu cargo o material circulante. A CP paga à REFER as respectivas taxas de utilização das vias que explora.

Feito este esclarecimento, importa agora orientar a nossa atenção para os protagonistas das comemorações do centenário da linha e tecer algumas considerações sobre o que foi tornado público.

Da cerimónia de apresentação do programa das comemorações do centenário da linha, que foi apresentado recentemente em Ul-Oliveira de Azeméis, destacam-se as declarações de um alto responsável da REFER (entidade que superintende a infraestrutura ferroviária nacional), que fez um pré-anúncio de acordo com as autarquias, tendo em vista aumentar a segurança e a redução de acidentes em passagens de nível, sinistralidade essa que coloca esta linha à cabeça das que maiores índices apresenta em toda a rede ferroviária nacional.

Há muito que as populações que têm proximidade com a Linha do Vouga, esperavam este anúncio de 10 milhões de euros, que serão totalmente investidos na supressão, reclassificação e automatização das passagens de nível, em suma , na melhoria substancial das condições de segurança da via férrea. Mas, esperavam muito mais, esperavam que a REFER, definisse claramente, um programa de reabilitação de toda a infraestrutura, de forma a potenciar e a tornar mais atractivas junto dos utentes, as qualidades deste meio de transporte.

O representante da CP, deu algumas pistas positivas neste sentido, referindo que a Linha do Vouga continua com o futuro assegurado, pelo menos por parte da CP, há que ser criativo, de forma a captar o interesse das pessoas para a utilização do comboio, como um meio interessante de deslocação. São múltiplas as vantagens do comboio relativamente a outros meios de transporte:

A segurança - enquanto passageiro, este meio de transporte é menos propício a acidentes, desde que a infraestrutura tenha a manutenção técnica devida.

O custo - é mais económico viajar de comboio, do que fazê-lo de automóvel ou outro qualquer meio de transporte público.

É ambientalmente mais ecológico, se tivermos em conta o rácio entre as emissões poluentes e o número de passageiros potencialmente transportáveis.

Mesmo à baixa velocidade com que o comboio actualmente circula, é possível ir da Feira a Espinho mais rapidamente de comboio do que de automóvel, se não acreditam, experimentem chegar a Espinho ou mesmo à Feira, tentem estacionar a viatura no centro da cidade e depois apercebam-se do tempo que demoram.

Houve-se dizer que o material circulante está completamente obsoleto, nada de mais errado, o material actualmente em circulação na linha do Vouga tem cerca de 17 anos, veio da antiga linha Porto-Póvoa do Varzim. É o material mais recente que existe no país. em termos de bitola métrica, existe muito material circulante que foi readaptado e completamente transformado, tem aspecto de novo mas na verdade não o é. Inclusive as unidades que actualmente prestam serviço na linha do vouga, estão preparadas para funcionar com energia eléctrica.
O que é preciso naturalmente, é que seja feita uma manutenção devida nas automotoras, talvez uma reabilitação no seu interior para aumentar o conforto dos passageiros e acima de tudo, criar condições nas estações terminais que resguardem o material e evitem o vandalismo criminoso, dos energúmenos que grafitam o comboio.

Ainda recentemente, talvez à meia dúzia de anos, toda a estrutura de balastro e trilhos foi substituida, pelo menos de Espinho a Paços de Brandão, daí para a frente desconheço se houve intervenção. Na altura os trilhos originais foram substituídos por trilhos que vieram da linha do Norte, quando foram efectuadas obras de modernização nesta via, e que servem perfeitamente para a linha do Vouga. Esta melhoria permite, por si só, que o comboio possa circular muito acima dos actuais 35 Km/h. No entanto isso actualmente não é possível, pese embora, o comboio tenha potência para circular muito acima dos 60Km/h, a razão prende-se essencialmente com a falta de segurança nas passagens de nível e não com as condições da via.

Outro problema é que depois que foi feita essa intervenção, a manutenção não foi assegurada como se impunha. No entanto em termos de conservação da via, tudo muda de Oliveira de Azeméis para a frente até à Sernada do Vouga, a linha mantém toda a sua traça original desde os últimos 100 anos e tem sido votada ao completo abandono e desleixo. Aqui mais do que noutra parte qualquer do traçado, é a própria segurança das circulações que não está assegurada, é o balastro da via que não se distingue da vegetação, trilhos bastante empenados, o que obriga os maquinistas a não ultrapassar os 25 Km/h.

Como se vê, a própria REFER percebe isso mesmo, a segurança nas passagens de nível, é de todos os itens propostos para reabilitar a linha, aquele que mais irá onerar as obras de intervenção. O investimento da REFER terá que passar também pela reabilitação de algumas estações, que se encontram em completa ruína, resultado do desinvestimento e da incúria de quem tem responsabilidades pela conservação desses espaços emblemáticos.

Outro dos investimentos prioritários terá que ser, a criação de espaços de espera condignos e minimamente confortáveis para os utentes.

Num próximo texto farei uma interpretação da abordagem, que os nossos representantes autárquicos fizeram no passado e se propõem fazer no futuro desta linha.


PUBLICAÇÃO : O GADANHA

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