Ciência - Titã, lua de Saturno poderia abrigar vida

terça-feira, 11 de novembro de 2008

A uma refrescante temperatura de -180º Celsius, Titã é actualmente fria demais para abrigar qualquer coisa próxima à vida como conhecemos, dizem cientistas. Mas novos estudos reportam fracos sinais de um campo electromagnético natural na grossa nuvem que a cobre, similares à energia irradiada por relâmpagos na Terra. Acredita-se que foram os relâmpagos que desencadearam as reacções químicas que iniciaram a vida em nosso planeta.

"Até agora, não foram observados relâmpagos na atmosfera de Titã," disse o principal autor Juan Antonio Morente, da Universidade de Granada, na Espanha. Mas, afirmou, os sinais detectados "são prova irrefutável da existência de actividade eléctrica."

Caçarola pré-biótica congelada

A equipe de Morente estudou as informações recolhidas pela sonda Huygens, da agência espacial europeia, que se desprendeu da nave Cassini, da NASA, em 2005, para se tornar a primeira sonda a ir abaixo das nuvens de Titã.

Assim que entrou na atmosfera da lua, um forte vento a inclinou em cerca de 30 graus. Esse movimento acidental permitiu à Huygens detectar ressonâncias eléctricas semelhantes as da Terra, algo que passaria despercebido, segundo Morente e seus colegas descrevem em seu estudo, publicado em uma edição recente da publicação Icarus.

Jeffrey Bada, da Instituição de Oceanografia Scripps, entende que o processo que permitiu que relâmpagos desencadeassem a vida na Terra é universal e que poderia acontecer em vários ambientes - inclusive em Titã.

A confirmação no início deste ano de lagos de hidrocarboneto em Titã fez da lua de Saturno o primeiro local fora da Terra onde corpos líquidos foram encontrados na superfície. Hidrocarbonetos são moléculas orgânicas e o fato de existirem em larga quantidade em Titã sugere que a vida pode lançar raízes por lá sob as condições adequadas.

"Se houvesse a incidência de relâmpagos na atmosfera de Titã, poderia ocorrer a produção do que chamamos de moléculas precursoras," disse Bada, que não estava envolvido no estudo de Morente. "Para ir além," afirmou, "você precisa de água em estado líquido."

A água de Titã está congelada em blocos duros como granito. Se essas "pedras" de gelo derretessem, no entanto, o ambiente poderia se tornar mais hospitaleiro para os blocos constituidores da vida. Com água líquida, o planeta poderia abrigar a formação de aminoácidos e, então, de proteínas, que dirigem toda a bioquímica e preparam o estágio para a formação de moléculas complexas.

"Eu vejo Titã como uma caçarola pré-biótica congelada," disse Bada, se referindo ao estágio anterior à emergência da vida. "A ideia de que a vida pode estar em outras partes do universo, acredito, é bem viável."

Um campo próprio

Defensores das teorias sobre vida em Titã observam que vários eventos celestiais poderiam temporariamente esquentar a lua o suficiente para derreter seu gelo. Talvez isso tenha acontecido no passado, afirmam - ou possa acontecer no futuro.

Mas o autor do estudo, Morente, disse que é impossível precisar tais possibilidades com o conhecimento científico disponível actualmente. O que os astrónomos sabem é que Titã não possui seu próprio campo magnético, afirmou. Ao invés disso, a lua orbita pela magnetosfera de Saturno a diferentes distâncias do planeta.

Isso significa que a força do campo magnético de Titã varia constantemente, deixando sua superfície mais vulnerável aos danosos raios cósmicos. Segundo Morente, sem uma protecção estável contra a radiação, "a existência de vida é muito improvável."

Fonte : National Geographic

PUBLICAÇÃO : O COMENDADOR

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