Corticeira Amorim - A razão dos 193 despedimentos

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A propósito da crónica que ontem escrevi sobre o despedimento colectivo que a Corticeira Amorim se prepara para levar a efeito.

É importante tentar perceber a razão dos despedimentos. Desde logo e pelo que foi anunciado, a dispensa de trabalhadores irá ser feita em duas unidades que no universo empresarial do Grupo Amorim fazem parte da área de produção, no caso concreto ao segmento de produção de rolhas naturais e ao segmento de granulação e aglomerados.

Isto talvez não aconteça por acaso, quem conhece os meandros do sector corticeiro, constata que o Grupo Amorim tem posto em prática nos últimos anos, uma estratégia contínua de redução de pessoal nas áreas produtivas, privilegiando a área comercial.

É tudo uma questão de avaliação de lucro e de risco. As áreas de produção são hoje mais complexas de gerir e comportam um grau mais elevado de risco.

Assim sendo, o Grupo Amorim recorre a muitas pequenas e médias empresas para suprir as suas necessidades junto dos clientes, servindo de intermediário na comercialização e na colocação de rolhas de cortiça no mercado externo, já que as PME's do sector não têm capacidade nem estruturas para o fazer.

No fundo a corticeira Amorim com estes despedimentos, só dá continuidade à sua estratégia futura de abandonar a produção em detrimento da comercialização e da exploração de novas aplicações para a cortiça.

Por aqui se vê como funciona esta espécie de capitalismo da selva, abandonando a produção, abrem-se novas perspectivas para os pequenos produtores de rolhas, mas em contrapartida estes tornam-se mais dependentes do seu patrono-mor, o que os vai asfixiar em momentos de crise, como a que se vive actualmente.

Paralelamente, desresponsabilizam-se dos encargos sociais com os trabalhadores enviando-os directamente para o desemprego ou então atiram essa responsabilidade de forma indirecta para as pequenas e médias empresas que deles dependem para sobreviver e até abrem portas para uma nova perspectiva de trabalho precário, que é a prestação de serviços, modalidade esta que infelizmente tem crescido dentro do sector e que é já praticada por algumas empresas subsidiárias do Grupo Amorim.

Em momentos de prosperidade as coisas ainda vão rolando, o problema é quando surgem os momentos de crise, basta ao Grupo Amorim arrastar ligeiramente o tapete e muitas empresas irão literalmente ao charco, e com isso arrastam os seus trabalhadores, semeiam a miséria e colhem daí os seus frutos.

PUBLICAÇÃO : O GADANHA

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