Raízes da Corrupção

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Nota Prévia:

De tudo o que já escrevi e aqui foi publicado, devo confessar que o texto que se segue foi o mais ponderado e onde tentei que as palavras fossem criteria e cuidadosamente escolhidas de modo a evitar problemas futuros. Pela natureza sensível da matéria que se segue nesta crónica, aconselho os leitores mais susceptíveis a saírem desta página ou se quiserem passar o tempo de forma mais divertida e menos cúmplice dirijam-se para aqui. Antes de mais quero alertar para o seguinte: Qualquer aproximação entre o que aqui se pretende escrever e a realidade, pode sugerir (ou não) mera ficção. Para os que se sentirem defraudados ou atingidos pelo conteúdo do texto, queiram aceitar desde já os meus mais sinceros cumprimentos.

Então, é assim que começa esta estória, que não é história...

" Há dias ouvi o João Cravinho dizer que caso o governo não adopte medidas sérias no combate à corrupção, Portugal caminha a passos largos para um processo de "Italianização" (Seja lá o que isto for, é perceptível o alcance das suas declarações).

Cravinho apresentou no último verão 3 projectos-lei destinados a combater a corrupção e neste momento a sua iniciativa (louvável diga-se) ainda não teve interlocutores por parte da bancada parlamentar do PS.

Diga-se em abono da verdade, que Cravinho tem encarnado nos últimos tempos, a personagem de D.Quixote lutando contra moinhos de vento.

Preocupado com este estado semi-febril do ex-ministro das obras públicas, o PS tem procurado de forma subreptícia aplicar-lhe um placebo, como se de um verdadeiro chá-de-sumiço se tratasse.

Como diz Cravinho e eu concordo, a corrupção em Portugal é sistémica e descarada e não o resultado de actos individuais isolados.

Da corrupção, do tráfico de influências e dos compadrios, fala-se à boca cheia de forma pouco explícita, mas quando se fala em surdina (como convém) a coisa fica mais clara e evidente.

Na sede de uma autarquia bem próxima de onde vos escrevo, e mais não torno explícito, quem tiver interesse que ponha a imaginação a funcionar... como dizia nessa autarquia, sempre que existe um concurso público para admissão de funcionários, nomeadamente auxiliares de acção educativa, existe uma regra de ouro para que os candidatos possam ter sucesso na obtenção do emprego.

A regra é simples, injecta-se uma boa dose de liquidez nos bolsos dum alto responsável pelo concurso e o mercado de oferta de emprego torna-se logo personificadamente muito generoso.

Aparentemente os meandros deste esquema estão envoltos em alguma complexidade, primeiro há que arranjar o traficante de influências, de seguida é recomendável, apesar de não ser estritamente imprescindível, apresentar o cartão de milit...perdão! cartão de sócio do clube mais representativo lá da terra, por fim é necessário que as ampolas injectáveis sejam de imunizadores vivos, porque se forem de imunizadores em papel (cheque), corre-se sempre o risco de perder a imunidade.

O que me deixou perplexo foi a quantidade de ampolas que é necessário injectar, diz quem já injectou, que amarrando as ampolas em forma de jangada, poder-se-ia com esta facilmente chegar às caraíbas, notável!!!

Talvez por ignorância ou pela minha inocência angelical nestas matérias, sempre tive a sensação que nesta coisa das cunhas para os empregos funcionasse a regra dos (jobs for the boys or for the
good girls), ou na pior das hipóteses para a ramificação directa e indirecta de toda a árvore genealógica, por fim ainda admitia a possibilidade de haver compadrios e tráficos de influências, agora dinheiro vivo para empregos onde o vencimento ronda os 500 euros?

Significa isto que, para se obter um passaporte para embarcar no comboio da miséria é necessário primeiro adquirir um visto para as Caraíbas, ou outro qualquer paraíso balnear, as somas podem chegar a ser superiores a 4 vencimentos, ou seja, quase um terço do vencimento anual.

É verdade que a corrupção tem sempre dois vectores, o corrupto e o corruptor, mas que dizer do corruptor que o faz à mingua da sua própria sobrevivência?

É crime? claro que é! mas quem nunca o tentou em momentos de maior aperto, que atire a primeira pedra...

Quanto ao corrupto... arquiva-se por falta de provas, pois claro! mas fica sempre a crueldade e a desavergonhada falta de escrúpulos para acrescentar ao crime."

PUBLICAÇÃO : O GADANHA

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