Santa Maria de Lamas - Via Sacra

Em semana que antecede a Páscoa são inúmeras as manifestações de fervor religioso que se espalham um pouco por todo o concelho, por todo o país e até por todo mundo.

Em Santa Maria de Lamas aconteceu na passada quarta-feira a via sacra, que pretendeu recriar os últimos momentos vividos por Jesus Cristo há mais de 2000 anos.

O cortejo iniciou-se na Capela de Moure e terminou na Igreja Matriz.
Foi um número impressionante de fiéis que aderiram à cerimónia, arrisco dizer que participaram perto de 1200 pessoas.

Aquilo que mais me impressionou no entanto, foi a forma como os responsáveis pela organização conseguiram uma tão forte adesão, a estratégia foi simples:

Concentrando os miúdos da catequese pela devoção, consegue-se a adesão maquinal dos pais e o Espírito Santo trata de encantar as restantes ovelhas, sejam elas tresmalhadas ou parte integrante do beatificado residente.

Não sei se o senhor Padre ou algum organizador da cerimónia reparou que a via sacra demorou mais de 2 horas, tendo terminado para além das 22h 45m e que no meio daquele imenso mar de gente, havia crianças com apenas 6 e 7 anos que normalmente à hora que aquilo terminou já estariam a dormir.

É verdade que um dia não são dias e ninguém é forçado a participar, mas na verdade a mensagem que é transmitida pelos catequistas apelando dissimuladamente ao dever de participação dos miúdos, deixa pouca margem de manobra aos pais que mesmo involuntariamente acabam por engrossar a fila.

Não me incomodam particularmente estas manifestações de religiosidade, mas causa-me sempre alguma confusão a forma como são arrastados os fiéis em êxtase absoluto, que se regulam cegamente por uma espécie de ordenamento divino mas pouco racional.

Se a cerimónia pretendia recriar a epopeia vivida por alguém há 2000 anos, consegui-o na sua plenitude já que foi visível em alguns momentos o grande sacrifício com que algumas crianças conseguiram levar a sua "cruz ao calvário" ao longo das 14 estações, sem adormecerem nos apeadeiros.

PUBLICAÇÃO : O COMENDADOR