Milheirós de Poiares - Praia fluvial da Mamoa

É extraordinária a ideia de se criar uma praia fluvial no concelho de Santa Maria da Feira.

Será que é mais uma barbaridade semelhante à Semana Santa para captar turismo?

Não é que não ache a ideia interessante, mas num concelho onde não existe uma rede de saneamento básico, é particularmente delirante investir mais de um milhão de euros na criação desta eventual praia fluvial.

Aquilo que mais me intriga é perceber como é que a Câmara Municipal irá salvaguardar e monitorizar a qualidade da água do rio, de modo que esta seja apropriada para banhos e não coloque em risco a saúde pública dos utilizadores desse futuro espaço balnear.

Dizer que naquele troço de rio as águas têm uma aparência cristalina não deverá servir de conforto para ninguém, tanto mais que em matéria de salvaguarda e protecção ambiental esta Câmara Municipal já deu demasiados exemplos de incompetência.

Confesso que não conheço muito bem o local, mas sei que não existe uma rede de saneamento e tratamento de esgotos no concelho, sei também que a Câmara Municipal da Feira é um dos maiores prevaricadores no que toca a contaminar linhas de água, duvido até que exista algum curso de água em todo o concelho que não seja sistematicamente alvo de descargas poluentes de efluentes domésticos e industriais.

Assim sendo, quem é que será suficientemente louco ou corajoso para ir a banhos nessa praia?

Bem sei que o projecto só deverá estar pronto daqui por dois anos, mas, mesmo assim, continuo a achar que mais uma vez que os nossos gestores autárquicos, de resto como é seu apanágio, estão mais preocupados em esbanjar dinheiro de forma leviana e promover obras para inglês ver e feirenses cegar do que verdadeiramente apostar na qualidade de vida das pessoas.

A porcaria e o mau cheiro não desaparecem do corpo pela acção aromática das melhores fragâncias, é preciso primeiro lavar como forma higiénica de purificar o corpo e só depois então, talvez, perfumar os sovacos.

Não seria mais lógico pensar na praia fluvial depois de resolver os problemas com a rede de esgotos e saneamento?

Que sentido e que contrapartidas existem num investimento de mais de 1 milhão de euros numa zona balnear, quando o concelho está mergulhado numa profunda crise social, crise essa que tem tendência a agravar-se muito rapidamente com o aumento galopante do desemprego?

Saberão porventura os impulsionadores deste projecto onde e em que rios se localizam as praias fluviais que têm excelência na qualidade das águas?

Os contribuintes e os munícipes da Feira devem exigir que os dinheiros públicos sejam bem geridos e neste caso parece-me prematura e completamente fora do contexto sócio-económico da região avançar para este projecto.

PUBLICAÇÃO : O COMENDADOR