Obra pronta ou inacabada?
domingo, 6 de julho de 2008
Há dias a SIMRIA, anunciou aqui com pompa e circunstância, a entrada em funcionamento da Estação Elevatória da Ribeira de Rio maior em Paços de Brandão.
Esta infra-estrutura, supostamente, irá permitir que cerca de 52 mil feirenses possam ter os seus efluentes tratados na ETAR de Paramos, no âmbito do programa de despoluição da Barrinha de Esmoriz.
O vereador do ambiente e obras públicas de Santa Maria da Feira, Emídio Sousa, não cabia em si de tão feliz que estava ! Pelo menos foi o que transpareceu das declarações que prestou à imprensa.
Esta obra é absolutamente necessária para a despoluição da barrinha, mas confesso que me ficou a “pulga atrás da orelha!”. Então, e a despoluição da ribeira de Riomaior?
Como é que esta obra pode estar já a servir uma população de 52 mil habitantes, quando a montante, ou seja, em Paços de Brandão e Santa Maria de Lamas ainda decorrem obras?
Apesar de já ter sido anunciado o interceptor de Rio Maior, a verdade é que os esgotos de Santa Maria de Lamas, por efeito da gravidade, continuam a ir direitinhos para a referida ribeira, sem qualquer espécie de tratamento.
Esta situação é facilmente comprovável, com um pequeno passeio pelo viaduto da A1, entre a superfície comercial que existe ali perto e as ruínas da antiga empresa corticeira “Empresa Industrial de Paços de Brandão”.
Apesar de passar despercebido do lado de Santa Maria de Lamas, pela vegetação abundante que rodeia as entradas das condutas, consequência provável , da elevada concentração de nitratos nas águas residuais ; no sentido de Paços de Brandão e até junto das obras da SIMRIA que ali decorrem, podem ver-se na sua plenitude as mesmas condutas a drenarem esgotos para a deprimente ribeira.
Ribeira de Riomaior - Junto à linha do Caminho-de-ferro
O que mais intriga nisto é o real objectivo deste anúncio:
1º O objectivo político parece meramente residual e ainda estamos relativamente afastados das eleições, muito embora, se sinta já o aquecimento dos motores de campanha.
2º O objectivo económico tem muito mais razão de ser, cria-se este “show off” da inauguração para feirense engolir e depois aplica-se o respectivo preço nas facturas da água e saneamento, através da retirada do crédito de não tratamento do saneamento.Com o sistema a funcionar em pleno, não se justifica mais que os feirenses não paguem também o tratamento dos efluentes.
Além disto é preciso não esquecer que a SIMRIA pertence ao grupo Águas de Portugal, que tem uma situação económica muito débil.
3º Cumprir algum prazo que estivesse definido por contratualização e depois, bem à portuguesa , ir remendando aquilo que ainda falta, o importante é mostrar obra feita mesmo que não esteja plenamente funcional.
Tudo isto pode ser mera especulação e não há como lhe fugir , o que não podemos admitir é ter que pagar um serviço, que de momento ainda não é prestado, a ligação à rede de saneamento em Santa Maria de Lamas, conduz os efluentes directamente para a ribeira, contribuindo assim, ainda mais, para a sua poluição e degradação biológica.
Aliás, esta ribeira mais não é que um esgoto a céu aberto, de caudal considerável, onde a Câmara da Feira através da sua concessionada Indáqua, mais não faz que , exactamente o mesmo, pelo qual , e bem, são punidos os limpa-fossas.
Com tanta porcaria junta, invade-me uma certa “nostalgia” pelos tempos em que os meus pais e avós, com os “cabaços”, prodigiosos exemplos da tecnologia e do progresso, em matéria de saneamento, efectuavam o escoamento das fossas sépticas directamente para as hortas e campos de cultivo, com a convicta ideia de utilizar a “água choca” como ”fertilizante natural para o solo”.
Prometemos estar atentos a esta situação e cá voltaremos se necessário for, agora não pensem que nos vão “comer “ com molho de escabeche e muita cebola!
Ou então, haverá um equívoco, e o desvio dos efluentes começará a jusante das fronteiras do Município Feirense com os de Espinho e de Ovar, e daí para montante a ribeira serve, como sempre serviu, de conduta de saneamento.
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