Mitos - Licantropia e vampirismo

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

LICANTROPIA e VAMPIRISMO


O mito do lobisomem tem raízes na Idade Média e estendeu-se até aos nosso dias.
Na idade Média eram cometidos uma enormidade de crimes cruéis, que pela sua natureza sádica eram atribuídos a seres horrendos e sobrenaturais, o medo, as superstições e a influência da Igreja davam o toque final para a perpetuação do mito.

Alguns criminalistas forenses modernos comparam esses delitos bárbaros com requintes de malvadez irracional, àqueles que hoje são praticados pelos serial killers, tendo sempre como móbil a violação e as sevícias sexuais.

Em psiquiatria, a licantropia aparece como uma doença mental com tendências canibalistas, onde o doente se imagina transformado em lobo podendo inclusive imitar os seus uivos.
Nos casos mais patológicos estes doentes chegam a alimentar-se de carne fresca crua, negando-se a ingerir qualquer outro tipo de alimento.

Na Idade Média, as psicoses como a esquizofrenia, o sadismo, o necrofilismo e os doentes mentais em geral eram tratados como uma criação mórbida do demónio, ou como o fruto do relacionamento deste com a bruxaria, era assim que a instituição clerical via tudo o que se desviava dos padrões estereotipados da criação divina. Na verdade era mais fácil atribuir as culpas a seres sobrenaturais pela imperfeição dos homens, do que aos próprios homens. Os cruzamentos consanguíneos forçados ou de espontânea vontade existiam aos magotes e as doenças e mal-formações genéticas associadas deveriam acompanhar essa enormidade.

Aos psicóticos só restaria o isolamento social ou a morte na fogueira. A única saída para os seus instintos mórbidos passaria pela licantropia imaginária.

Estes doentes valiam-se, como ainda hoje, dos personagens da cultura e do folclore para solidificar a crença em poder transformar-se em lobo. Então, nas noites de lua cheia, o seu corpo cobria-se de pêlos, os seus dentes caninos tornavam-se maiores e pontiagudos e as suas unhas transformavam-se em garras. Possuídos por tais delírios, os doentes vagueavam pelas ruas durante a noite, assediando as suas vítimas, atacando, mordendo e, em algumas ocasiões, esquartejando e comendo partes de seu corpo.

Hoje em dia, a medicina conhece outros tipos de doenças que poderiam explicar parte do mito da licantropia, como por exemplo a Porfíria Congénita.

Esta doença caracteriza-se por problemas cutâneos, foto-sensibilidade e depósitos de porfirina, um pigmento dos glóbulos vermelhos que escurece os dentes e a urina, dando a impressão que o paciente esteve a beber sangue.

Outras doenças, como por exemplo a Hipertricose ou o Hirsutismo, as quais provocam o crescimento exagerado de pilosidades por todo o corpo, incluindo a face, eram interpretadas, antigamente, como qualidades sobrenaturais, onde os doentes potencialmente se convertiam em bestas.

Porfírias: O Lobisomem e os Vampiros intimamente ligados

As Porfírias são um grupo de doenças genéticas cuja causa é um mau funcionamento da sequência enzimática do grupo Heme da Hemoglobina (a hemoglobina é o pigmento do sangue que faz que este seja vermelho e é composta pelo grupo Heme e varias classes de globinas).

O grupo Heme é quem transporta o oxigénio dos pulmões ao resto das células do organismo e é um complexo férrico.

Qualquer erro na hereditariedade que interfere na síntese do grupo Heme é capaz de produzir as doenças chamadas Porfirias, daqui o factor da consanguinidade poder ser determinante.

Os sintomas das Porfirias são:

Foto-sensibilidade, que se apresenta em todos tipos, menos na chamada Forma Aguda Intermitente. Esta foto-sensibilidade é o resultado da acumulação de porfirinas livres de metal na pele e produzem lesões sérias na epiderme:

Hirsutismo. Uma das formas que o organismo encontra para se defender da luz é desenvolver pilosidades abundantes em locais pouco habituais do corpo, como nos dedos e dorso das mãos, no nariz, na face e nas partes do corpo mais expostas à luz. Isto faz com que os pacientes que desenvolvem estas doenças só possam sair quase exclusivamente à noite.

Pigmentação. A pele pode apresentar também zonas de pigmentação ou de despigmentação e os dentes podem ser vermelhos fazendo que o aspecto geral do doente se afaste cada vez mais do ser humano normal e se aproxime da concepção ideológica de um monstro.

As porfirinas acumuladas na pele, podem absorver a luz do sol em qualquer banda cromática, tanto no espectro ultravioleta, como no espectro visível e logo interagir quimicamente com o oxigénio que é consumido nos movimentos respiratórios.

Este oxigénio que vai alimentar as células com deficiências genéticas, é altamente reactivo e vai produzir a destruição dos tecidos, predominantemente os mais distais e mais expostos, como é o caso das pontas dos dedos, o nariz, etc, oxidando essas áreas de forma violenta, com severas inflamações sob a forma de queimaduras.

Assim, quando estes doentes se expõem à luz, as suas mãos se convertem em garras e a sua face, peluda, mostra uma boca permanentemente aberta por lesões cíclicas dos lábios. Estando os dentes descobertos, estes adquirem uma aparência maior, sugerindo presas. O rosto assume feições cadavéricas; as narinas, pelos mesmos motivos das lesões, apresentam-se voltadas mais para cima e com orifícios medonhos e escuros.

Dessa forma teremos o lobisomem tal qual descrito pelo mito do Homem-Lobo. Imaginemos agora, na metade do século XIV, a possibilidade de encontrarmos no meio de uma noite escura, esse tipo de paciente que sai de noite para evitar as lesões provocadas e com esta aparência acima descrita, e teremos todos os condimentos para a perpetuação do mito irracional.

As Porfírias são doenças genéticas e para as quais ainda não se encontrou cura actualmente.

Apesar disso existem alguns tratamentos que são aplicados para minorar os sintomas. Um deles é a injecção de glóbulos vermelhos concentrados (hemácias) ou soluções à base de ferro (heme), além disso os doentes são aconselhados a usar continuamente filtros solares de elevada protecção.

Os avanços da medicina da Idade Media, não permitiam que qualquer destes tratamentos pudesse ser administrado, já que nem para a causa da doença havia explicação.

E se, em algum momento um destes pacientes tiver sido induzido por algum curandeiro a experimentar uma poção mágica que lhe aliviasse as maleitas?
E se essa poção contivesse sangue fresco de algum animal, por exemplo, uma galinha?
E se o paciente após tomar essa poção à base de sangue fresco de galinha, ou outro qualquer animal doméstico, tivesse tido melhoras?
A própria carência de ferro pode desenvolver a inclinação e o apetite por carne crua sanguinolenta.

Estaria assim criado não só o mito do lobisomem como do vampirismo.

É curioso que os relatos que nos chegam escritos da idade média sobre estes mitos, enquadram-nos em gerações familiares de lobisomens e de vampiros. Na parte Oriental da Europa Medieval eram normais os casamentos endogâmicos (entre familiares próximos), assim como a realeza e a nobreza Europeias cruzavam entre si o "sangue "azul".

Este é mais um argumento que abona em favor da degeneração da doença provocada por cruzamentos consanguíneos, tanto mais que as profírias têm derivações de natureza genética.

O mito do alho como amuleto contra vampiros

Há uma crença folclórica sobre o poder do alho para afugentar vampiros. Quais seriam os fundamentos dessa crença?

Existe no fígado uma enzima chamada Citocromo P450, cuja função seria, junto com outras enzimas, remover do organismo substâncias não solúveis em água produzindo produtos xenobióticos hidrossolúveis, cumprindo assim uma das suas funções desintoxicantes .
Como acontece com a hemoglobina, o Citocromo P450 possui o grupo HEME que, neste caso, cumpre uma tarefa diferente. Quando o Citocromo P450 hepático está a sintetizar uma ampla variedade de compostos orgânicos, o seu grupo Heme pode ser destruído.

Muitas drogas e compostos orgânicos que destroem o grupo Heme do Citocromo P450 hepático, têm muito em comum com um dos principais componentes do alho, o dialquilsulfito, que além do mais é uma substância volátil. Isto sugere que a ingestão de alho, agrava potencialmente os efeitos de um ataque de porfíria.

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