Linha do Vouga - Haja memória!

domingo, 6 de dezembro de 2009

No passado dia 23 de Novembro, a linha do Vale do Vouga comemorou o seu 101º aniversário.

Ao contrário do que sucedeu no ano passado, a efeméride deste aniversário passou praticamente despercebida, o que até se compreende 100 anos são  sempre 100 anos e não se comemoram todos os dias.

Claro está que a pompa e circunstância das comemorações do centenário do ano transacto, não se esgotaram em foguetório e festa.

Na altura, anexos às comemorações, foram assinados uma série de protocolos entre a Refer , as autarquias e o governo Português, na pessoa do secretário de estado dos transportes Ana Paula Vitorino e que tinham por objectivo revitalizar a utilização deste meio de transporte, mas mais importante, ficou assente entre todas as partes que seria dado cumprimento ao dec.lei. 568/99 ,com vista à melhoria das condições gerais de atravessamento das passagens de nível desta via férrea, que como se sabe é a linha de caminho de ferro com o mais alto índice de sinistralidade da rede ferroviária nacional.

O protocolo que incide sobre a melhoria da segurança nas passagens de nível prevê cerca de 50 supressões e 50 automatizações tudo num investimento a rondar os 18 milhões de euros. Sendo que no concelho da Feira todas as passagens de nível serão intervencionadas, 18 serão suprimidas, se bem que algumas já estejam desactivadas e outras 18 serão automatizadas, havendo a ainda lugar à construção de duas novas passagens desniveladas, uma em São Paio de Oleiros e outra no Cavaco-Santa Maria da Feira.

Eu recordo aqui que este protocolo é do domínio público (basta procurar na net e encontram lá tudo), pelo que considero patéticas algumas intervenções de alguns neopolíticos distraídos e oportunistas que  há não muito tempo defendiam o encerramento da linha e hoje apresentam-se  à opinião pública como paladinos  acérrimos defensores da linha do Vouga. Ainda recentemente questionavam, na mais completa ignorância, para quando o fim dos trabalhos que estão a ser feitos nas passagens de nível. A resposta é encontrada de duas formas, ou lendo a legislação actualizada que tem por base o dec-lei. 568/99 ou então recorrendo ao protocolo assinado o ano passado, que prevê  a conclusão de todo o plano de requalificação das passagens de nível até finais de 2010.

Eu julgo que as obras decorrem a bom ritmo, pelo que também não entendo porque razão  se diz que os trabalhos estão atrasados, a menos que alguém consiga demonstrar que tecnicamente será impossível concluir todo o plano de obras durante 2010, isto sem prejuízo de eu entender que esta obra já deveria ter sido feita há décadas.
O cumprimento deste plano será a maior revolução jamais operada em termos de segurança nesta linha.
Este será o plano mais ambicioso e porque não dizê-lo o único plano que nos últimos 100 anos se fez com vista a melhorar as condições de segurança da linha do Vouga.

Esta linha, tal como quase todas as outras que existem em Portugal, foi coverde e convenientemente esquecida, quer por governantes, quer por autarcas, quer por políticos em geral, durante décadas. Portanto, tentar explorar agora a possibilidade de retirar dividendos políticos, duma situação que está dentro daquilo que foi estabelecido é no mínimo falta de honestidade politica, termo muito em voga  e que faz escola teórica no discurso e na escrita de muito boa??? gente.

Outra questão que me faz confusão é afirmar que os atrasos se devem a questões ligadas com alterações ao ordenamento do território. O que poderá estar a acontecer e acontece mesmo, é que os acordos para a cedência de terrenos que irão constituir os caminhos alternativos à supressão de algumas passagens de nível, não estarão a ser fáceis de negociar, pelo que em última instância e caso não haja acordo, as autarquias terão que recorrer à expropriação dos terrenos. No entanto, não me parece que isto possa mexer muito com os mecanismos de ordenamento do território, tanto mais que a maioria dos caminhos alternativos, para não dizer a sua totalidade serão construídos paralelamente à via férrea, em parcelas de terrenos que até pertencem à Refer, sendo residuais os casos em que haverá efectivamente um choque de interesses com os proprietários dos terrenos, esta resilência não significa porém, que aos proprietários afectados não assista legitimidade na defesa dos seus interesses.

A questão dos despedimentos dos trabalhadores que alegadamente trabalham na reestruturação da linha.
Era importante que se fosse mais objectivo nesta denúncia:

Primeiro porque a única reestruturação que existe na linha, se é que existe, é entre Arrifana e a Z.I. do Orreiro em São João da Madeira, ao abrigo do protocolo que cria o plano de introdução de comboios frequentes no troço de linha que delimita o concelho de S.J.Madeira,.

O que eu conheço, com excepção do caso referido e mesmo aí não sei se a linha será reestruturada, ou apenas serão as infraestruturas de apoio aos passageiros,  não existe nenhuma reestruturação da linha, o que existe é um plano que está ser executado, o de requalificação das passagens de nível.

Na linha quanto muito, faz-se algumas obras de limpeza e manutenção. Esta bem que precisava de obras de reestruturação, mas por enquanto o que existe são obras de requalificação nas passagens de nível, portanto em conclusão, considero-me uma pessoa atenta às questões da linha do Vouga e já o faço há muito tempo, não fui assolado subitamente, por uma qualquer torrente de demagogia idiota que me soprou ao ouvido um apelo para falar nisto, mas esta questão da reestruturação da linha por enquanto é uma falácia.

Não obstante, a reestruturação completa de toda a infraestrutura terá que ser levada em atenção, o material circulante está degradado, o próprio balastro da linha em muitos troços precisa de obras de estabilização  e consolidação e mesmo uma parte da estrutura férrea dos carris está  obsoleta, conservando ainda a traça original, com mais de 100 anos, o que impede os comboios de circular a uma velocidade mais elevada., apesar de terem potencial técnico para o fazerem. As circulações actualmente existentes poderiam facilmente obter velocidades  da ordem dos 60 Km/h, encurtando em muito o tempo entre estações, só não o fazem por causa da insegurança nas passagens de nível e porque a própria linha não o permite.

Se se referem a despedimentos de trabalhadores que estão a trabalhar na requalificação das passagens de nível, aí com franqueza não sei. O que sei é que a empresa a quem foi adjudicada a obra de automatização eléctrica das passagens de nível é a Alstom. Pelo que tenho podido perceber, a obra será feita por fases, não é possível levar uma obra que esteja a ser feita numa passagem de nível do principio até ao fim. O sistema funciona em cadeia, pelo que será necessário levar a obra por fases em toda a sua extensão e em todas as passagens de nível que serão automatizadas, tal como numa casa, inicialmente é necessário preparar o terreno, depois iniciar a construção de pedreiro, depois trolha, canalizador, electricista,  terminando no decorador. É bem provável que para cada fase do processo seja necessário um tipo de mão de obra especializada diferente. E a ser assim, não excluo a hipótese de alguma empresa subcontratada para determinada fase da obra, após a conclusão da sua empreitada tenha descartado trabalhadores, o que é a todos os títulos condenável.

O que me é dado a perceber, embora desconheça se cada equipa tem um número determinado de passagens de nível onde tem que actuar, é que as equipas  são relativamente pequenas, não mais que 8/10 pessoas.

O que se espera, é que todo o plano de requalificação das passagens de nível, seja concluído dentro dos prazos previstos e que posteriormente, toda a infraestrutura sofra uma intervenção de fundo, desde as infraestruturas de apoio aos passageiros às condições de circulação dos comboios, que permita a revitalização total da via e a torne mais apelativa à utilização por parte das pessoas, só assim serão compreendidos os milhões em  investimentos que actualmente se gastam, ou pretendem gastar na melhoria das condições de segurança.

O comboio deve ser por todos nós defendido, vejam o que aconteceu na linha do Tua, com o encerramento do troço Mirandela/Bragança, o prejuízo que isso acarretou para as populações que por ele eram servidas.
O comboio, ao contrário daquilo que pensam alguns dementes peregrinos cá da nossa praça, também desempenha uma função social importante, para além de ser o único meio de transporte que algumas pessoas têm disponível para se deslocarem, (inclusive, dentro deste concelho da Feira, que é um paradigma da mediocridade em termos de rede de transportes), o comboio também contribui em relativa medida para a dinamização económica das freguesias por onde passa, se hoje não tem um papel tão activo nessa dinâmica em tempos teve, e foi determinante para o desenvolvimento e progresso dessas freguesias. E este facto indesmentível deve fazer apelo à nossa memória colectiva. Além disso, por exemplo, para os utentes de Paços de Brandão e felizmente ainda são alguns que o utilizam diariamente nas suas deslocações, sendo que no Verão serão muitos mais ainda, para estes, como dizia, ainda é o meio de transporte mais rápido e mais económico para se deslocarem à cidade de Espinho e daí para o Porto ou para Aveiro (se não acreditam façam a experiência de automóvel ou de autocarro). Pena é que em Espinho tenhamos assistido impávidos e serenos à amputação de algumas centenas de metros de linha férrea, que muito prejudicou quem quer fazer o interface, com a linha do Norte (Aveiro ou Porto). Essa distância que outrora, tal como hoje poderia estar mesmo ali ao pé, agora terão que ser os pés a calcorrear a insolência e a falta de  respeito que alguns ex-autarcas sempre nutriram pela linha do Vouga e pelos seus utilizadores.

Em conclusão parece-me que só faz sentido tudo isto se o objectivo final for manter a linha do Vale do Vouga em toda a sua extensão, explorando inclusive, as suas potencialidades turísticas tudo numa perspectiva alargada de futuro sem perder de vista aquilo que é a nossa memória colectiva e afectiva ao Vouguinha .

Compete-nos a nós enquanto cidadãos estar atentos e activos se assim tiver que ser, para que a linha não morra. Paços de Brandão deve-lhe muito, está na hora de  a linha lhe exigir algumas contrapartidas. E a linha exige, que os Brandoenses exijam o cumprimento escrupuloso dos prazos estabelecidos,  para a conclusão do plano de requalificação  com a melhoria alargada das condições de segurança nas passagens de nível, quanto mais não seja, pelo respeito à memória de alguns conterrâneos seus,  que pereceram tragicamente em algumas das passagens de nível que existem nesta freguesia, tudo porque nunca ninguém se lembrou ao longo de 100 anos de colocar umas barreiras, uma luz encarnada intermitente ou um simples trinado de campainha que lhes permitisse escapar do seu carrasco. Devemos igualmente pugnar pela defesa dos interesses das pessoas cuja património possa ser colocado em causa, pelos caminhos alternativos à supressão de passagens de nível ( na passagem de nível de Riomaior/Regadas, por exemplo, haverá algumas pessoas que verão os seus terrenos trespassados por uma estrada paralela à linha do comboio, isto merece a nossa atenção e até solidariedade, se é evidente que é necessário assegurar segurança, essa terá sempre um custo, isto não pode é ser feito a qualquer preço.)
Ao actual executivo da Junta de Freguesia também compete fazer alguma coisa pela linha do Vouga, por exemplo, para começar há que limpar a nódoa vergonhosa e irresponsável que foi a postura do ex-presidente da junta em todo este processo que envolve a linha do Vouga, desde as comemorações do centenário, até à discussão dos planos de supressão e requalificação das passagens de nível, em tudo isto esse senhor fez Paços de Brandão passar mal, muito mal mesmo.

A alguns políticos também se exige uma postura de seriedade, porque não é com o oportunismo da ignorância que se livram do ridículo e se credibilizam da idiotice.

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