A verdade inquietante
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
O futuro não se afigura risonho para a Rohde. É-nos sempre difícil ver notícias de despedimentos, em qualquer parte do país ou até mesmo do mundo, mas quando isto nos afecta ou aqueles que nos são mais próximos, mais dificuldades temos enfrenta-lo.
A empresa de calçado de Santa Maria da Feira fechará, não tarda nada; ou pelo menos, deixaremos de a conhecer como tal. As últimas notícias dão-nos conta que a administração da empresa solicitou ajuda ao governo para assegurar o pagamento dos salários de Novembro. A situação de Lay-Off em que a maioria dos trabalhadores se encontra, outrora situação manifestamente indesejável dada a perda de rendimentos por parte dos trabalhadores, surge agora como um mal menor, visto que, no futuro apenas se vislumbra o desemprego.
Em tempos áureos, a Rodhe Portugal era uma empresa que produzia cerca de 40 mil pares de sapatos por dia, a facturação alcançava os 50 milhões de euros e a rede de lojas não cessava de crescer em toda a Europa, inclusive em Portugal. A empresa que nasceu 28 dias após o 25 de Abril de 1974 chegou a ter 3000 trabalhadores, porventura, hoje-em-dia é uma ténue sombra do seu próspero passado, sendo constituída por apenas 900 trabalhadores.
O que induziu a Rohde a esta situação foram, exactamente, os mesmos factos que catapultaram inúmeras empresas de capital estrangeiro para a insolvência: a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC).
Desde este momento, as empresas têxteis localizadas na Europa viram-se perante um país que colocava os seus produtos nos mercados Europeu e Americano abaixo do preço de custo da Europa e América. Esse país que não apresenta as mesmas condições laborais (higiene, segurança e protecção social) chega a pagar salários mensais de €100 a €150.
A questão coloca-se: Como pode uma empresa Portuguesa (ou Europeia) sobreviver/competir, perante a concorrência Chinesa, se terá que pagar €450 (no mínimo), pagar segurança social e garantir protecção no trabalho?
A verdade é inquietante e dura: não podemos competir contra os produtores Chineses, sem provocar um retrocesso civilizacional, ou limitarmo-nos a pequenos nichos de mercado que, obviamente, não empregarão a totalidade dos até aqui despedidos.
Chegados a este ponto, eu tenho algo muito simples a dizer. Deparam-se dois caminhos pela frente, através dos quais a Europa terá de decidir e nunca um país individualmente: fazemo-nos de “bonzinhos” e não violamos as regras impostas pela OMC contra o proteccionismo económico (suportando toda a mão-de-obra desempregada desses sectores tradicionais através de subsídios de desemprego e Rendimento Social de Inserção) ou portamo-nos mal e aplicamos tarifas alfandegárias aos produtos Chineses (suportando a indústria Europeia, à custa dessa protecção, mas evitando o desemprego e os consequentes custos orçamentais e sociais).
É por estas e muitas outras que Maquiavel é odiado por uns, mas vangloriado por outros. O pragmatismo, por vezes, é mais útil do que as boas práticas.
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