A criação do mundo segundo Tchort - Parte II

domingo, 15 de novembro de 2009






As Crónicas do Tchort – A criação do Mundo (Parte II)


Esta coisa de criar o mundo é uma tarefa extenuante e eis que sobreveio a noite e Deus foi merecidamente descansar.

Deus sofria de vários problemas de saúde para além da flatulência, outro problema eram as insónias e mais grave, deus possivelmente tinha problemas relacionados com as dimensões volumétricas da próstata (deus constatou essa possibilidade através do toque rectal), pois as suas micções, ora eram prolongadas, ora eram às pinguinhas, isto viria a ser de vital importância para o futuro da humanidade, como veremos adiante. Mas, vamos por partes...

Como ainda não tinha criado as horas, os minutos e os segundos, muito menos as semanas, os meses e os anos, os seus olhos não tinham a percepção do cair da noite, a glândula pineal (localizada no centro do cérebro) não produzia a melatonina necessária para auxiliar o seu organismo a regular o ciclo do sono (ciclo circadiano).

Deus tinha dificuldades em adormecer, uma das fórmulas com que tentava contornar o problema era contar carneirinhos, mas, naquela noite preferiu fazer uma retrospectiva da sua obra, na esperança de adormecer mais facilmente, foi então que lhe ocorreu uma ideia.

Até àquele momento a sua criação era um tanto ou quanto bizarra, não se distinguia o céu da terra, porque ainda não existia terra, nem se distinguia a terra dos oceanos, porque estes também não existiam. Este seria o mote para o terceiro dia da criação e Deus embalado pelos anjos adormeceu...


Pela manhã, Deus acordou com uma ressaca dos diabos e isto bloqueava-lhe as ideias. Enquanto pensava que se dirigia à casa de banho, para se aliviar do tormento que nos atormenta a todos logo pela manhã (a primeira mijadinha) e para desfazer a barba, ia matutando sobre o que o inquietava:


Como iria ele criar os oceanos e a terra firme? Sim porque apesar de ser sobrenatural, ele há coisas que nem para os deuses é obra fácil, isto não lhe saía do pensamento e criou-lhe distracção. Deus não conseguiu distinguir a sanita da porta de saída e ali mesmo se aliviou.


Deus tinha o velho hábito de se dirigir a um pequeno rochedo que delimitava um abismal precipício. Daí se entretinha a observar a potência do jacto da sua micção. Deus divertia-se imenso aquando da sacudidela final, extasiava-se a observar a precipitação das pinguinhas para o fundo do abismo (esta técnica viria a ser precursora daquilo a que mais tarde se convencionou designar por chuva molha-tolos).


Como deus não tinha a exacta noção da cronologia, para ele valia tanto um milhão de anos como um único segundo, havia passado já imenso tempo desde a última vez que deus tinha mijado, mas ele não se apercebera disso.


A mijadela foi monumental, inundou toda a planície que se seguia ao abismo e todas as outras planícies que estavam no seu redor.

Nota: (abro aqui um parêntesis só para lembrar que mais tarde Deus iria repetir este feito extraordinário da micção, quando se deu o dilúvio, mas lá chegaremos...)


Mais uma vez e por mera obra do acaso, que é como quem diz pela graça do Espírito Santo, Deus acabava de criar os mares e os oceanos, sete ao todo. O que não foi inundado, ficou estabelecido pela geografia que seria a litosfera.



Durante a micção, mais uma vez deus sentiu os efeitos da terrível flatulência, deixando escapar um pequeno flato, nada que se assemelhasse ao big bang; estava criado o primeiro Tsunami da história com dimensões bíblicas.


Foi assim deste modo que deus contemplou a sua obra da criação do mundo:

- Eureka !!! (apareceram aí umas três lâmpadas em redor da testa e duas por cima da nuca) acabei de separar o céu da terra e a terra dos mares, sete ao todo!

Assim se criou a harmonia que faltava no espaço estratosférico.

Ficou assim escrito que este seria o terceiro dia da criação, deus gostou do que viu e isso deixou-o muito orgulhoso.


Sobreveio a noite, depois a manhã, finalmente a tarde e deus entrou no quarto dia da sua empreitada, este foi um dos dias mais importantes da criação.

Ao quarto dia, tenho andado para aqui a falar de dias e de noites, mas em abono da verdade, ainda deus não os tinha criado, por mera distracção diga-se.

Sendo deus omnisciente, ele tem noção de tudo o que se passa, em todos os momentos e em todos os lugares, portanto essa história dos dias e das noites não era coisa que fizesse muita falta por aqueles dias, mas fazia alguma falta às tardes e às noites.


Decidiu então deus criar as horas, os minutos e os segundos e como a contagem do tempo não pode ficar por aqui, vão pensar vocês que deus criou o relógio! nada disso, os relógios foram inventados e deus não inventa nada, deus cria...

Criou então deus a ampulheta do tempo, um mecanismo altamente sofisticado que serviu para contar o tempo durante milénios, mas que entretanto se tornou obsoleto, tendo sido ressuscitado muito mais tarde como apêndice do cursor do rato, para os tempos de espera no computador.

Deus não cria obra ao acaso, deus é supremo e foi muito meticuloso quando definiu que um dia para ser perfeito e imaculado deveria ter a duração exacta de 23 horas 56 minutos e 4,09966 segundos, por conseguinte, deus definiu que o ano teria 365 dias, 6 horas e 9 minutos.

Esta meticulosidade levantou um grave problema, é que ao fim de quatro anos os dias estavam todos desajustados do movimento de translação da terra. O calendário ficou um caos, nem Júlio nem Gregório haviam nascido ainda.

Então deus, senhor criador de todas as coisas e nada adepto das coisas confusas e complicadas, criou o ano bissexto, acrescentando mais um dia ao mês de Fevereiro de 4 em 4 anos. O objectivo era manter o calendário anual ajustado ao movimento de translação da terra e aos eventos sazonais relacionados com as estações do ano, que entretanto também criara.

A partir de então, deus começou a levar uma vida mais regrada e assim seria para todas as outras criações, tudo na vida deveria obedecer à regra fundamental do tempo e isso era bom, porque deus gostava (só por isso). Em bom rigor passou a haver dia e noite, horas, minutos e segundos (os décimos, os centésimos e os milésimos só muito mais tarde viriam a ser descobertos com o advento dos cronómetros e com a descoberta do átomo de Césio), passou a haver dias, meses e anos (a semana também foi criada por deus, mas somente ao sétimo dia), passou igualmente a haver solstícios e equinócios, tempo sideral e tempo universal, latitudes e longitudes, ascensão recta e declinação, ponto vernal, eclíptica e azimutes, trópico de câncer e trópico de capricórnio e finalmente também o equador e os signos do Zodíaco, toda esta obra é graça de deus.

Foi assim que se criou a harmonia no tempo, deus gostou da sua obra e isso era bom!

Cumpriu-se assim religiosa e rigorosamente, ao fim de 23 horas 56 minutos e 4,09966 segundos, o quarto dia da criação.


Continua, se Deus quiser e o santo ofício deixar...

2 comentários:

Maoliver disse...

Imagino o quanto difícil foi criar o mundo , mas , mais difícil ainda esta recriação humorística e verídica, da criatividade e da natividade literária.
parabéns.

NoiteNegraDeAzul disse...

Confesso que mantenho sérias dúvidas em relação aos flatos, estou em crer que foi o S. Martinho que os inventou e deu a criar a deus...isto muito depois da criação do mundo, eu penso que o big bang se deu após um trmendo arroto de deus, pois todos sabemos que o néctar dos deuses do Olimpo era o vinho, contudo como eram de uma equipa diferente deste deus criador, ele apostou num contrato milionário com a Coca-Cola, e daí o dedo miraculoso Americano na criação...

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