Eleições Europeias 2009 - O sofisma do voto em Branco
quarta-feira, 10 de junho de 2009
No passado Domingo os Portugueses decidiram por quem queriam ser representados no Parlamento Europeu nos próximos 5 anos.
Não me vou ocupar muito dos resultados a nível nacional, já que esses são sobejamente conhecidos e determinaram o seguinte resultado:
Não me vou ocupar muito dos resultados a nível nacional, já que esses são sobejamente conhecidos e determinaram o seguinte resultado:
PSD - 8 deputados, PS - 7 deputados, BE - 3 deputados, PCP/PEV - 2 deputados, CDS - 2 deputados.
Nestas eleições houve quem achasse dramático o índice de abstencionismo a nível nacional que se cifrou em 62,54%, mas que na verdade foi só ligeiramente acima do valor das eleições Europeias de 2004 (61,2%). Isto aparentemente, demonstra que os Portugueses têm pouco interesse em participar nas questões que dizem respeito à Europa, no entanto, é preciso ter em consideração que em termos absolutos votaram neste acto eleitoral 3555947 eleitores, mais do que em 2004 onde votaram 3394356, isto deveu-se ao facto de em 2009 estarem inscritos mais 742792 eleitores do que à cinco anos. Aos desesperados apelos oriundos dos vários quadrantes políticos para participação na votação, 2 em cada 3 Portugueses (somados os votos brancos e nulos a percentagem chega perto dos 70%) responderam com indiferença, e aqui a classe política tem responsabilidades que conjuntamente devem ser partilhadas pela comunicação social. As eleições eram europeias, mas os partidos preferiram orientar o seu discurso para as questões nacionais mais pertinentes e da actualidade e quando afloravam em alguns momentos as questões de natureza europeia, a imprensa escrita e audiovisual sendo veículos privilegiados de propagação de mensagem, preferiram fazer eco do circo e da gincana política entre os principais candidatos (PS e PSD), em que a dada altura se transformou a campanha eleitoral, fazendo passar muito despercebidamente aquilo que nestas eleições estava em causa.
O que me parece mais substancial nesta questão foi o inusitado número de votos brancos e nulos que representou cerca 6,64% dos votos expressos. Arriscaria dizer que foi nesta eleição que se registou o maior número de votos inválidos da história da democracia Portuguesa. Só o número de votos em branco permitiria eleger um deputado para Bruxelas, coisa nunca vista, já que normalmente o número de votos em branco e nulos é residual, em 2004, representou apenas 3,96% do total de votos expressos.
O que terá levado muitos Portugueses a dirigirem-se às mesas de voto e a votar em branco ou a anular legitimamente o seu voto à boca das urnas?
O descrédito generalizado nos actuais actores políticos deve estar à cabeça das suas motivações.
O descontentamento pelas políticas do actual governo deve ser outra das causas próximas, evidenciando assim as suas frustrações com um "cartão branco" ou "multicolor".
Outra das razões que poderia estar subjacente a este número desmesurado de votos em branco poderia ser, a não identificação com as propostas e programas apresentados pelos diversos partidos.
Fossem qual fossem as razões são perfeitamente legítimas, ainda que eu ache que a manifestação dessas razões seja perfeitamente inconsequente e inócua na expressão final dos resultados eleitorais. O que me faz alguma confusão é que sendo legítimo votar em branco ou anular um voto, alguém se dê ao trabalho de se deslocar a uma mesa de voto para que o seu voto não valha literalmente nada, ficará o orgulho talvez... O curioso disto é que os votos em branco e os nulos poderiam ter sido determinantes na decisão de quem venceria estas eleições, com os nulos e os brancos o PS ficaria à frente do PSD.
Talvez mais importante que tentar motivar os Portugueses para irem fazer aquilo que eles não têm muito interesse em fazer (exercer o direito de voto), os partidos terão que preocupar-se no futuro, em motivar os Portugueses para a intervenção democrática através do combate, não à abstenção por ausência de participação, mas sim à abstenção participada na urna...
Votar em branco é somente mais um sofisma nesta imensa nulidade em que se dilui a participação e intervenção democrática na vida dos portugueses, não resolve nada, não contesta nada e até aqui pelo menos ninguém lhe dava nenhuma atenção, terão estas eleições o condão de orientar os políticos para os números de votos inválidos?
PUBLICAÇÃO: O COMENDADOR
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