Irmão Lobo, Irmã Lua - Desmistificar a Lua Cheia
segunda-feira, 22 de junho de 2009
Num momento em que a comunidade de investigação científica e espacial se propõe lançar uma série de novas missões à lua, num ambicioso programa que não será um mero"revival" das missões Apollo do inicio dos anos 70. A Lua continuará a flutuar de mãos dadas com a Terra pelo espaço como nossa inseparável companheira, pelo menos por mais alguns milhões de anos.
A lua na sua fase cheia é o corpo mais brilhante do céu, logo depois do sol. Desde os tempos mais imemoriáveis que ela ocupa um lugar no imaginário do homem. Musa inspiradora de lendas, de mitos e de superstições, está-lhe indissociável, o fascínio que sobre nós provoca.
A propósito desta temática encontrei este fabuloso artigo onde fiz algumas pequenas adaptações e que não resisti em publicar aqui.
A celestial Selene sempre esteve associada aos desequilíbrios emocionais, ao comportamento violento, às deambulações sinistras e à loucura. Não é por acaso que a lua cheia é a lua dos amantes apaixonados, dos "serial killers", dos lobisomens, das bruxas, dos vampiros e das diversas criaturas do folclore medonho. Acredita-se que, durante a lua cheia, aumentem o número de crimes violentos, de suicídios e das internamentos nos hospitais psiquiátricos. A lua cheia também se adequa à fecundidade e à fertilidade e não é anormal que enfermeiras e médicos acreditem que mais mulheres dão à luz na lua cheia. No campo, muitos agricultores consultam a Lua antes de plantar ou podar, assim como nos salões de beleza muita gente faz o mesmo na hora de cortar o cabelo. Mas será que estes mitos lunares resistem aos dados da ciência?
A ciência sempre procurou respostas para a correlação entre a lua cheia e o comportamento humano. No que diz respeito aos nascimentos durante a lua cheia, o estudo mais abrangente sobre o assunto foi feito pelo astrónomo Daniel Caton. Em 2002, Caton analisou mais de 70 milhões de registos de nascimentos ao longo dos últimos 20 anos. A sua conclusão foi inequívoca: não há nenhuma relação entre a lua cheia e o número de partos.
Quanto aos suicídios, diversos estudos mostraram que eles não são mais comuns durante a lua cheia como se pensa; pelo contrário: um estudo realizado pelo Instituto de Saúde Pública da Finlândia divulgado em 2000 mostrou que em 1.400 casos de suicídio ocorridos ao longo de um ano na Finlândia, uma larga maioria ocorreu durante a lua nova, quando a luminosidade é menor.
Não é por acaso que se chamam lunáticos aos loucos, mas terá isto algum fundamento? O mito de que a lua cheia provoca maior actividade, nos doentes psiquiátricos é um dos mais populares entre os mitos lunares. Também é mais um a não encontrar apoio nos lúcidos dados estatísticos. O psicólogo canadiano Ivan W. Kelly e os seus colegas da Universidade de Saskatchewan investigaram em 1996 mais de 100 estudos relacionados com efeito lunar em doentes com patologia psíquica e não encontraram nenhuma relação entre a lua cheia e algum comportamento que possa remotamente ser rotulado como lunático.
E quanto aos animais? "geralmente" mais irracionais que os homens, exercerá a Lua Cheia alguma influência sobre eles? Não, segundo os pesquisadores Simon Chapman e Stephen Morrell da Universidade de Sidney. Muita gente tem como certo que os cães são mais agressivos com as pessoas na lua cheia. A conclusão é de que pelo menos os cães canadianos não mordem as pessoas, mais frequentemente na Lua cheia do que quando a lua está numa das outras fases (pelo menos não o suficiente para levá-las ao hospital).
E já que estamos falando em hospitais, um outro estudo - "Effect of lunar cycle on temporal variation in cardiopulmonary arrest in seven emergency departments during 11 years" - publicado no European Journal of Emergency Medicine, desmonta o mito de que há mais atendimentos de emergência a pacientes cardíacos durante a lua cheia (embora tenha encontrado existam menos 6,5% de ressuscitações na fase de lua nova).
Outro mito popular é de que durante a lua cheia acontecem mais crimes, especialmente os violentos. Durante algum tempo, este mito gozou de alguma credibilidade científica, graças ao pesquisador Arnold L. Liber da Universidade de Miami. Liber investigou 14 anos de ocorrências policiais no estado da Florida e disse ter encontrado maior actividade criminal durante a lua cheia. Este estudo até hoje é amplamente citado, especialmente pelos esotéricos, que vêem nele a prova de suas crenças, porém nenhum outro pesquisador conseguiu chegar aos mesmos resultados de Liber. O astrónomo George Abell da Universidade da Califórnia, por exemplo, ao analisar os mesmos dados, realmente constatou que o número de crimes aumenta nos períodos de maior calor e nos feriados, mas não encontrou nenhuma relação com a fase da lua. Já na Espanha o estudo "Moon cycles and violent behaviours: myth or fact?" publicado no European Journal of Emergency Medicine analisou 1.100 casos de vítimas de agressão atendidos durante um ano no hospital universitário La Candelaria, em Tenerife, e não encontrou nenhuma relação entre os atendimentos e a fase da Lua. Nenhuma relação tampouco foi encontrada por Alex Pokorny e Joseph Jachimczyk, da Escola de Medicina Baylor de Houston, que nos anos 70 analisaram 2500 homicídios ocorridos no Texas, durante quatorze anos ("Astrology: True or False? - A Scientific Evaluation" de Roger Culver e Philip Lanna).
Já no campo, muitos agricultores acreditam que as colheitas são mais abundantes se as sementes forem plantadas nas fases certas da Lua. Mas não é só isso: em muitas regiões os fazendeiros também consultam a Lua antes de podar plantas, colher maçãs, fertilizar o solo, cortar madeira, castrar animais, desmamar crianças, assar bolos e até mesmo lançar as fundações de uma construção. A crença nos efeitos da Lua vai além das meras tradições populares transmitidas de pai para filho; nos EUA, o "Almanaque do Fazendeiro" oficializa o mito e ensina, entre outras coisas, que o que o dia 21 de maio é perfeito para capinar o mato, já que a vegetação crescerá mais lentamente. O grupo Australian Skeptics é um dos poucos que colocou este mito à prova. Ao plantar sementes em luas "boas" e "ruins" os pesquisadores não encontraram nenhuma diferença significativa no tempo de germinação ou no peso dos vegetais colhidos.
Do crescimento da vegetação ao crescimento do cabelo basta um pulo para a imaginação popular. Claro que você já ouviu falar que cortar o cabelo de acordo com a lua pode fazê-lo crescer mais rápido ou com mais volume. O site longhairlovers.com, por exemplo, ensina: "para o cabelo crescer com mais volume corte-o quando a lua estiver cheia na casa de Touro, Caranguejo ou Leão", e por aí vai. No Rio Grande do Sul, Brasil, a empresa Pilomax embalou a superstição num produto comercial e vende desde 1968 o Calendário Lunar Pilomax, mais um revolucionário tratamento que promete resolver o problema da queda de cabelos (um cliente satisfeito do sistema diz que usa o produto há vários anos e que ele funciona sim: os pêlos das suas costas, nariz e ouvidos cresceram bastante desde que começou o tratamento, mas não tanto os da cabeça, que continua careca; certamente, pensa ele, porque não levou em conta o seu ascendente). Nem todos os cabeleireiros se deixam levar por este mito; os profissionais mais sérios colocam-no na mesma prateleira de outras superstições populares conhecidas por "hair-voodoo" (do tipo: "usar boné provoca queda de cabelo"). O dermatologista Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo assegura que a Lua não tem qualquer influência na maneira e na velocidade com que o cabelo cresce e que independentemente da fase lunar, a média de crescimento mensal do cabelo é de 1 centímetro.
De onde vêm os mitos lunares?
Praticamente todos os mitos relacionados com a Lua vêm de um sofisma, ou seja, de uma associação lógica que parece verdadeira, mas não é. Toda a gente sabe que a Lua afecta as marés; ora, se nosso corpo é constituído na sua maior parte por água, ele não poderia também ser influenciado pela Lua, manifestando uma espécie de "maré corporal"? Esta ideia parece tão lógica que já rendeu um livro inteiro: "How the Moon Affects You" de Arnold L. Lieber (responsável pelo estudo que citamos acima), publicado pela primeira vez em 1978 com o nome "The Lunar Effect". (Neste livro, entre outras coisas Liber previu um grande terremoto na Califórnia em 1982, provocado pelo alinhamento dos planetas que ocorreu naquele ano. O terremoto não aconteceu, mas como as previsões falhadas não costumam desanimar os videntes do futuro, Liber renovou a previsão na nova edição de seu livro, desta vez sem marcar a data).
Parece lógico, mas não é. O problema é que a influência da Lua nas marés é gravitacional (e não magnética como espalham alguns sites esotéricos por aí) e a força gravitacional é uma força muito, muito pequena (é a mais fraca das forças físicas conhecidas). Sendo tão pequena, a força gravitacional só se torna perceptível quando estão envolvidas massas muito, muito grandes, como, por exemplo, as massas da Lua e dos oceanos da Terra (esclarecendo: ela é proporcional às massas dos corpos e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles). É por isso que, assim como ninguém será incapaz de perceber marés dentro de um copo de água, também o nosso corpo não sentirá qualquer influência perceptível da Lua.Na verdade, um mosquito pousado no cabelo exerce mais força sobre ele do que a distante Lua, independentemente da fase.
Eis um outro problema para a teoria das tais marés corporais: como a força gravitacional depende da distância e como a distância entre a Lua e a Terra praticamente não se altera (a órbita da Lua é pouco elíptica), as marés não são provocadas pela fase da Lua. As marés são mais fortes na lua cheia e na lua nova, apenas porque nestes períodos a Lua e o Sol estão alinhados e a força gravitacional dos dois é somada na influência que exercem sobre os oceanos. Assim, se alguém aceitar a teoria das marés corporais terá que reeditar todos os mitos lunares e incluir a lua nova entre eles.
Finalmente, o mito de que os ciclos menstruais são regidos pelos ciclos lunares envolve um mero problema de aproximação. O ciclo menstrual médio é de 28 dias (e isso porque apenas 30% das mulheres têm períodos que diferem de menos de dois dias da média) enquanto o ciclo lunar é de imutáveis 29,53 dias. A diferença de 1 dia e meio não perturbou os nossos ancestrais que inclusive colocaram na raiz da palavra menstruação, a palavra grega para Lua (menus). Em todo o caso, aqueles que vêem algo de espectacular no facto de que, entre todos os mamíferos, apenas a mulher apresenta um ciclo de ovulação mais ou menos parecido com o lunar, está negligenciando o pequeno Opossum, um marsupial . O Opossum também tem um ciclo de aproximadamente 28 dias. É de se imaginar o misterioso desígnio que reservaria unicamente às mulheres e aos Opossum um ciclo de ovulação quase igual ao lunar...
A lua na sua fase cheia é o corpo mais brilhante do céu, logo depois do sol. Desde os tempos mais imemoriáveis que ela ocupa um lugar no imaginário do homem. Musa inspiradora de lendas, de mitos e de superstições, está-lhe indissociável, o fascínio que sobre nós provoca.
A propósito desta temática encontrei este fabuloso artigo onde fiz algumas pequenas adaptações e que não resisti em publicar aqui.
A celestial Selene sempre esteve associada aos desequilíbrios emocionais, ao comportamento violento, às deambulações sinistras e à loucura. Não é por acaso que a lua cheia é a lua dos amantes apaixonados, dos "serial killers", dos lobisomens, das bruxas, dos vampiros e das diversas criaturas do folclore medonho. Acredita-se que, durante a lua cheia, aumentem o número de crimes violentos, de suicídios e das internamentos nos hospitais psiquiátricos. A lua cheia também se adequa à fecundidade e à fertilidade e não é anormal que enfermeiras e médicos acreditem que mais mulheres dão à luz na lua cheia. No campo, muitos agricultores consultam a Lua antes de plantar ou podar, assim como nos salões de beleza muita gente faz o mesmo na hora de cortar o cabelo. Mas será que estes mitos lunares resistem aos dados da ciência?
A ciência sempre procurou respostas para a correlação entre a lua cheia e o comportamento humano. No que diz respeito aos nascimentos durante a lua cheia, o estudo mais abrangente sobre o assunto foi feito pelo astrónomo Daniel Caton. Em 2002, Caton analisou mais de 70 milhões de registos de nascimentos ao longo dos últimos 20 anos. A sua conclusão foi inequívoca: não há nenhuma relação entre a lua cheia e o número de partos.
Quanto aos suicídios, diversos estudos mostraram que eles não são mais comuns durante a lua cheia como se pensa; pelo contrário: um estudo realizado pelo Instituto de Saúde Pública da Finlândia divulgado em 2000 mostrou que em 1.400 casos de suicídio ocorridos ao longo de um ano na Finlândia, uma larga maioria ocorreu durante a lua nova, quando a luminosidade é menor.
Não é por acaso que se chamam lunáticos aos loucos, mas terá isto algum fundamento? O mito de que a lua cheia provoca maior actividade, nos doentes psiquiátricos é um dos mais populares entre os mitos lunares. Também é mais um a não encontrar apoio nos lúcidos dados estatísticos. O psicólogo canadiano Ivan W. Kelly e os seus colegas da Universidade de Saskatchewan investigaram em 1996 mais de 100 estudos relacionados com efeito lunar em doentes com patologia psíquica e não encontraram nenhuma relação entre a lua cheia e algum comportamento que possa remotamente ser rotulado como lunático.
E quanto aos animais? "geralmente" mais irracionais que os homens, exercerá a Lua Cheia alguma influência sobre eles? Não, segundo os pesquisadores Simon Chapman e Stephen Morrell da Universidade de Sidney. Muita gente tem como certo que os cães são mais agressivos com as pessoas na lua cheia. A conclusão é de que pelo menos os cães canadianos não mordem as pessoas, mais frequentemente na Lua cheia do que quando a lua está numa das outras fases (pelo menos não o suficiente para levá-las ao hospital).
E já que estamos falando em hospitais, um outro estudo - "Effect of lunar cycle on temporal variation in cardiopulmonary arrest in seven emergency departments during 11 years" - publicado no European Journal of Emergency Medicine, desmonta o mito de que há mais atendimentos de emergência a pacientes cardíacos durante a lua cheia (embora tenha encontrado existam menos 6,5% de ressuscitações na fase de lua nova).
Outro mito popular é de que durante a lua cheia acontecem mais crimes, especialmente os violentos. Durante algum tempo, este mito gozou de alguma credibilidade científica, graças ao pesquisador Arnold L. Liber da Universidade de Miami. Liber investigou 14 anos de ocorrências policiais no estado da Florida e disse ter encontrado maior actividade criminal durante a lua cheia. Este estudo até hoje é amplamente citado, especialmente pelos esotéricos, que vêem nele a prova de suas crenças, porém nenhum outro pesquisador conseguiu chegar aos mesmos resultados de Liber. O astrónomo George Abell da Universidade da Califórnia, por exemplo, ao analisar os mesmos dados, realmente constatou que o número de crimes aumenta nos períodos de maior calor e nos feriados, mas não encontrou nenhuma relação com a fase da lua. Já na Espanha o estudo "Moon cycles and violent behaviours: myth or fact?" publicado no European Journal of Emergency Medicine analisou 1.100 casos de vítimas de agressão atendidos durante um ano no hospital universitário La Candelaria, em Tenerife, e não encontrou nenhuma relação entre os atendimentos e a fase da Lua. Nenhuma relação tampouco foi encontrada por Alex Pokorny e Joseph Jachimczyk, da Escola de Medicina Baylor de Houston, que nos anos 70 analisaram 2500 homicídios ocorridos no Texas, durante quatorze anos ("Astrology: True or False? - A Scientific Evaluation" de Roger Culver e Philip Lanna).
Já no campo, muitos agricultores acreditam que as colheitas são mais abundantes se as sementes forem plantadas nas fases certas da Lua. Mas não é só isso: em muitas regiões os fazendeiros também consultam a Lua antes de podar plantas, colher maçãs, fertilizar o solo, cortar madeira, castrar animais, desmamar crianças, assar bolos e até mesmo lançar as fundações de uma construção. A crença nos efeitos da Lua vai além das meras tradições populares transmitidas de pai para filho; nos EUA, o "Almanaque do Fazendeiro" oficializa o mito e ensina, entre outras coisas, que o que o dia 21 de maio é perfeito para capinar o mato, já que a vegetação crescerá mais lentamente. O grupo Australian Skeptics é um dos poucos que colocou este mito à prova. Ao plantar sementes em luas "boas" e "ruins" os pesquisadores não encontraram nenhuma diferença significativa no tempo de germinação ou no peso dos vegetais colhidos.
Do crescimento da vegetação ao crescimento do cabelo basta um pulo para a imaginação popular. Claro que você já ouviu falar que cortar o cabelo de acordo com a lua pode fazê-lo crescer mais rápido ou com mais volume. O site longhairlovers.com, por exemplo, ensina: "para o cabelo crescer com mais volume corte-o quando a lua estiver cheia na casa de Touro, Caranguejo ou Leão", e por aí vai. No Rio Grande do Sul, Brasil, a empresa Pilomax embalou a superstição num produto comercial e vende desde 1968 o Calendário Lunar Pilomax, mais um revolucionário tratamento que promete resolver o problema da queda de cabelos (um cliente satisfeito do sistema diz que usa o produto há vários anos e que ele funciona sim: os pêlos das suas costas, nariz e ouvidos cresceram bastante desde que começou o tratamento, mas não tanto os da cabeça, que continua careca; certamente, pensa ele, porque não levou em conta o seu ascendente). Nem todos os cabeleireiros se deixam levar por este mito; os profissionais mais sérios colocam-no na mesma prateleira de outras superstições populares conhecidas por "hair-voodoo" (do tipo: "usar boné provoca queda de cabelo"). O dermatologista Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo assegura que a Lua não tem qualquer influência na maneira e na velocidade com que o cabelo cresce e que independentemente da fase lunar, a média de crescimento mensal do cabelo é de 1 centímetro.
De onde vêm os mitos lunares?
Praticamente todos os mitos relacionados com a Lua vêm de um sofisma, ou seja, de uma associação lógica que parece verdadeira, mas não é. Toda a gente sabe que a Lua afecta as marés; ora, se nosso corpo é constituído na sua maior parte por água, ele não poderia também ser influenciado pela Lua, manifestando uma espécie de "maré corporal"? Esta ideia parece tão lógica que já rendeu um livro inteiro: "How the Moon Affects You" de Arnold L. Lieber (responsável pelo estudo que citamos acima), publicado pela primeira vez em 1978 com o nome "The Lunar Effect". (Neste livro, entre outras coisas Liber previu um grande terremoto na Califórnia em 1982, provocado pelo alinhamento dos planetas que ocorreu naquele ano. O terremoto não aconteceu, mas como as previsões falhadas não costumam desanimar os videntes do futuro, Liber renovou a previsão na nova edição de seu livro, desta vez sem marcar a data).
Parece lógico, mas não é. O problema é que a influência da Lua nas marés é gravitacional (e não magnética como espalham alguns sites esotéricos por aí) e a força gravitacional é uma força muito, muito pequena (é a mais fraca das forças físicas conhecidas). Sendo tão pequena, a força gravitacional só se torna perceptível quando estão envolvidas massas muito, muito grandes, como, por exemplo, as massas da Lua e dos oceanos da Terra (esclarecendo: ela é proporcional às massas dos corpos e inversamente proporcional ao quadrado da distância entre eles). É por isso que, assim como ninguém será incapaz de perceber marés dentro de um copo de água, também o nosso corpo não sentirá qualquer influência perceptível da Lua.Na verdade, um mosquito pousado no cabelo exerce mais força sobre ele do que a distante Lua, independentemente da fase.
Eis um outro problema para a teoria das tais marés corporais: como a força gravitacional depende da distância e como a distância entre a Lua e a Terra praticamente não se altera (a órbita da Lua é pouco elíptica), as marés não são provocadas pela fase da Lua. As marés são mais fortes na lua cheia e na lua nova, apenas porque nestes períodos a Lua e o Sol estão alinhados e a força gravitacional dos dois é somada na influência que exercem sobre os oceanos. Assim, se alguém aceitar a teoria das marés corporais terá que reeditar todos os mitos lunares e incluir a lua nova entre eles.
Finalmente, o mito de que os ciclos menstruais são regidos pelos ciclos lunares envolve um mero problema de aproximação. O ciclo menstrual médio é de 28 dias (e isso porque apenas 30% das mulheres têm períodos que diferem de menos de dois dias da média) enquanto o ciclo lunar é de imutáveis 29,53 dias. A diferença de 1 dia e meio não perturbou os nossos ancestrais que inclusive colocaram na raiz da palavra menstruação, a palavra grega para Lua (menus). Em todo o caso, aqueles que vêem algo de espectacular no facto de que, entre todos os mamíferos, apenas a mulher apresenta um ciclo de ovulação mais ou menos parecido com o lunar, está negligenciando o pequeno Opossum, um marsupial . O Opossum também tem um ciclo de aproximadamente 28 dias. É de se imaginar o misterioso desígnio que reservaria unicamente às mulheres e aos Opossum um ciclo de ovulação quase igual ao lunar...
Fonte: Hypescience.com
PUBLICAÇÃO: O COMENDADOR
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