O fim da rolha nos ordenados das mulheres (leia aqui)
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Acordo a retalho
Por estes dias, o presidente do sindicato dos corticeiros anda muito feliz da vida, anos e anos de lutas, finalmente redundaram num acordo com a Associação patronal do sector, com vista à eliminação da discriminatória e ilegal diferença salarial, existente entre homens e mulheres.
Vitória! é o que anuncia o sindicato , um acordo a oito anos, só pode ser uma vitória para o Presidente do Sindicato e para a Apcor, nunca para as trabalhadoras, que agora já não se poderão desculpabilizar com os ordenados de miséria, para não ter pagas as suas cotas de sindicalizadas.
Um acordo retalhado a oito anos significa, branquear por mais oito anos uma ilegalidade cometida pelo patronato, significa que as trabalhadoras continuarão a ser espoliadas de parte do seu salário, significa provavelmente, um congelamento encapotado das actualizações dos vencimentos de todos os trabalhadores, ficando assim uns míseros 12,21 €, como bandeira de tanta injustiça e exploração.
Durante esse tempo, às mulheres corticeiras serão literalmente subtraídos 4790€ aproximadamente, que é a diferença entre aquilo que lhes é devido e aquilo que na verdade vão auferir durante os 8 anos (10940 € – 6150 €).
Poder-se-ia pensar que mais vale isto do que nada, no entanto, não se pode, com seriedade, vender esta ilusão. Nunca o clima de negociação foi tão favorável para o sindicato dos corticeiros, como agora, a pressão pública e política era enorme, a imprensa deu grande destaque a algumas iniciativas partidárias de denúncia da prática institucionalizada desta discriminação, o próprio patronato sentiu isso mesmo, de contrário não teria firmado acordo nenhum, apesar de algumas empresas por iniciativa própria, terem criado mecanismos que permitissem uma diminuição gradual e mais célere da diferença salarial existente.
Mais preocupante, fazendo fé nas declarações que proferiu o emissário do patronato às negociações, é a reduzida margem de manobra que resta ao sindicato, para agora negociar as actualizações do contrato colectivo para o sector. O que na prática poderá acontecer é que a diminuição da discriminação e da ilegalidade seja feita à custa de todos os trabalhadores, o que a concretizar-se, demonstra de forma inequívoca, uma fragilidade na estratégia e uma clara cedência por parte dos representantes sindicais ao patronato.
O sindicato bem poderia ter negociado a redução da discriminação salarial em litros de combustível, com a actual e indecente especulação nos preços, as trabalhadoras rapidamente conseguiriam obter a paridade nos salários, e o patronato até nem ficava a perder, não fosse o seu máximo califa, o rei do petróleo em Portugal.
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