Cruzadas do bem "mal"

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

A direcção da Cruzada do Bem, instituição de Solidariedade Social que congrega nove Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) em toda a região Norte do País, entre as quais o Patronato Amor de Deus de São João de Vêr é acusada de ter desviado cerca de 450 mil euros entre 2000 e 2005.

Peculato, abuso de poder, falsificação de documentos, delapidação de património, venda e oferta de bens pertencentes à comunidade a entidades particulares e autarquias e financiamento a clubes de futebol com dinheiro da Segurança Social, foram algumas das denúncias efectuadas por um grupo de cooperantes em documento que teve como destinatários: José Sócrates, ministro do Trabalho e Solidariedade Social, Vieira da Silva, inspector-geral do mesmo ministério e a Segurança Social no Porto.

Joaquim Teixeira, presidente do Patronato da Sagrada Família de Telões; Vítor Leandro, do Conselho Fiscal da Cruzada do Bem e Manuel dos Santos, director do Patronato de S. João de Castelões, identificaram-se como denunciantes.

A policia judiciária procedeu às investigações e remeteu nesta terça-feira o inquérito ao Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DIAP), com proposta de acusação de peculato.

A investigação começou em finais de 2005, depois de uma denúncia que acusava os membros dos corpos sociais da instituição de se apropriarem de montantes relativos à gestão da instituição e de vendas do património imobiliário.

Durante a investigação foram realizadas buscas domiciliárias às residências dos suspeitos, inquiridos cerca de trinta testemunhas e analisadas diversas informações bancárias, que confirmaram parte da denúncia feita.

Foi ainda possível recolher indícios da prática do crime em relação a sete arguidos, todos ligados à gestão da instituição.

Os dados apurados permitiram concluir que entre 2000 e 2005, os arguidos ter-se-ão apropriado de montantes na ordem dos 450 mil euros, que provinham de cheques ao portador emitidos pela instituição e creditados em contas bancárias dos arguidos ou de donativos feitos à instituição.

Significa isto que já desde finais de 2005, que havia fortes indícios de suspeita sobre a referida instituição.

Em finais de Julho de 2009 o secretário de estado da Segurança Social Pedro Marques presidiu à assinatura do protocolo do programa de alargamento da rede de equipamentos sociais, versão 3 (Pares III) para o distrito de Aveiro.

Ora a assinatura deste protocolo, no valor de cerca de 22 milhões de euros contemplou várias instituições de solidariedade social do distrito de Aveiro, entre as quais o patronato Amor de Deus, instituição agregada à Cruzada do Bem.

Como é que isto é possível quando se sabia que esta Cruzada do Bem, afinal não passava de um agregado dinástico do mal e da roubalheira descarada?

Então o dinheiro de todos nós contribuintes também serve para subsidiar instituições que já estão sob suspeita de fraudes imensas?

Para mim não é novidade a falta de transparência na gestão de muitas IPSS , com a agravante de terem a conivência e a complacência do poder político (governo e autarquias).

Não questiono os méritos das IPSS no apoio social que promovem, mas questiono os meandros escuros em que assenta a gestão de muitas destas entidades, nomeadamente com a ocultação e não apresentação de contas ao domínio público.

Todos os apoios e subsídios concedidos a estas instituições só deveriam ser atribuídos diante de um critério muito rigoroso na avaliação da prestação de serviço de interesse público.

O que se passou na Cruzada do Bem não deverá ser caso único, muitos sussurros se trocam em surdina, o que reflecte bem o lodaçal de promiscuidades existentes no seio destas entidades.

1 comentários:

Daniel Gomes disse...

Muito bem.

Falta de rigor e informação entre ministérios dá nisto.

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