O "Livro dos Santos Ofícios"

domingo, 28 de setembro de 2008

O "Feira das Comendas" congratula-se por ter sido um dos 55 000 feirenses, contemplado com o 1º volume da novíssima obra literária "O Livro dos Santos Ofícios", da autoria da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, cuja 1ª edição foi impressa na Empresa Gráfica Feirense, S.A.

Para os mais conceituados críticos literários e também para os agnósticos, esta é uma obra apócrifa, ou seja, um escrito que carece de inspiração divina.

Quanto ao livro, desde logo, ressalta o excelente aspecto gráfico e a qualidade do papiro, pelo que se percebe que o autor não se fez poupado nos meios nem na espécie, para que esta obra se torne um legado para as gerações vindouras. A comprovar isto mesmo, atente-se que o futuro, indicativo ou conjuntivo foi uma das formas verbais mais empregues no escrito.


(Capas Frente e Verso)


Fiquei verdadeiramente impressionado com o prefácio, da autoria do "digníssimo" Presidente da Câmara Municipal da Feira.

Não resisto a transcrever alguns (poucos) parágrafos do seu editorial, que demonstram uma visão "sacro-sóbria" (ou ébria?), (in) coerente e perspicaz, por parte de quem o faz:

"... Numa sociedade onde a imagem, o marketing e a informação/comunicação ganham cada vez mais espaço, temos de nos adaptar a essas regras. Informar e comunicar com os munícipes é também uma obrigação legal das autarquias. Um município deve mostrar e divulgar aquilo que faz, os projectos que desenvolve, a obra que concretiza."...

Não deixa de ser curioso o facto de a Câmara da Feira, só agora, a uma ano das eleições autárquicas, ter sentido necessidade de informar os feirenses dos seus "Santos Ofícios", será que a obrigação legal das autarquias em informar e comunicar com os munícipes só tem efeitos em vésperas de eleições? ou é mais abrangente e contempla todo o mandato?

Eu não sinto constrangimento de qualquer espécie, no facto das autarquias divulgarem e mostrarem a obra que fazem, principalmente quando têm obra para apresentar e não utilizam de forma obstinada o dinheiro que é de todos nós, para propagandear as futuras obras do regime.

Vou mencionar apenas, algumas das realizações mais interessantes desta verdadeira "enciclopédia da obra feita / por fazer", que tem o dom paradigmático de conciliar o passado com o futuro, sem passar pelo presente, vejamos alguns exemplos:

- A "entronização dos notáveis" pela confraria da Fogaça, foi uma das realizações mais importantes e que, veio suprir uma das necessidades onde os munícipes feirenses mais reclamam pela carência, pelo que, se encontra justificado cabalmente, o espaço de 6 páginas que lhe é dedicado no capítulo dos "Sagrados Ofícios".

É importante que se esclareça que a parolice da indumentária é um factor determinante para que a fogaça da Feira, deixe de ser um património usurpado ao povo, para passar a ser uma mais-valia explorada por alguns, a contento de (supostamente) todos. Com uma realização tão notável faz todo o sentido que se designe o ofício, de "Entronização dos Notáveis".

Ludgero Marques, Américo Amorim, Alfredo Henriques, entre outros passaram a ser verdadeiros embaixadores desta exclusiva iguaria feirense, que se encontra disponível em toda a parte, mas sem o epíteto de "Fogaça", porque esse é genuíno e é feirense. E é vê-los, nas comitivas de negócios ou nas visitas oficiais, munidos do tradicional embrulhinho da "Fogaça!".

- Outra realização primorosa deste mandato autárquico e que teve direito a quatro páginas no capítulo "Terra Mãe, Terra Mestre, Terra Nostrum", que outra coisa poderia ser senão a visita do excelso Presidente da República da nação , Aníbal Cavaco Silva.

Mais uma vez, os feirenses se viram privilegiados com tão majestosa presença, que permitiu colocar o município no roteiro do património, um velho desígnio da população que agora é satisfeito.

Nota: Fiquei um tanto ou quanto atónito, pelo facto do nosso ilustre Presidente da República não ter sido, também ele, elevado aos píncaros do Olimpo "fogaceiro". A resposta ocorreu-me quase de imediato, oriunda igualmente de um notável munícipe qualquer.

O Homem já em tempos foi entronizado como notável do "Bolo-Rei" e segundo os cânones dos confrades miríficos (VII capitulo da confraria da fogaça), está vedada a entronização a notáveis que não exerçam tão sagrada missão em regime de exclusividade.

Para não ser muito fastidioso apresento agora o sumo-magnificiente ofício da autarquia ,incluído no capítulo "Revolução Ambiental", teve direito a 4 páginas e tem a particularidade de ser praticamente versado no futuro do indicativo e do conjuntivo, mas com algumas nuances no presente e no condicional, do pretérito imperfeito, perfeito ou mais-que-perfeito nem uma nota!

Destaque ainda para a inclusão de alguns "salmos" dos "Actos dos Apóstolos". O apostolado é composto por 5 apóstolos " Santo Emídio, São Celestino, Santo Albergaria, São Peso e São Sumido".

Apenas uma referência aos ofícios de São Sumido, que devem ser demasiado vastos para poderem ser contemplados numa obra de 51 páginas, pelo que não se presume que a ausência de informação se deva a outras causas, como por exemplo, a falta de tinta para impressão, na gráfica, ou a inexistência de qualquer facto digno de registo no seu apostolado, para além dos campos de golfe.

Em jeito de remate final, aconselho vivamente a leitura desta "Bíblia" que é um extraordinário exemplar de literatura da "obra por fazer", porque da que está feita ,"não rezará a história!".


PUBLICAÇÃO : O GADANHA

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