Violência doméstica

terça-feira, 2 de setembro de 2008


Há por aí uns feitores de opinião que nos pretendem sugerir, que a onda de crimes violentos que varre o país tem origem na acentuada decadência social, associada à precariedade, ao desemprego, à "décalage" entre pobres e ricos, etc.,etc.,etc. daqui resulta invariavelmente a culpa do governo.

Não deixa de ser paradoxal que, se por um lado, muitos dos criminosos estão identificados como pertencendo a um nicho onde reina a exclusão e todo o tipo de problemas sociais que lhe são intrínsecos, por outro, é precisamente nestes nichos que o estado mais investe em apoios sociais.

É discutível se os apoios que são concedidos pelo estado, nomeadamente através do RSI (rendimento social de inserção) são ou não a melhor forma de combater os problemas sociais de muitas famílias, agora não se pode é encher água com a peneira, pela mesma razão que não podemos esconder o sol através da mesma.

A imprensa tem-nos alvejado literal e constantemente com assaltos violentos, não que não sejam graves, mas porque se esconde uma realidade bem mais preocupante que resulta dos casos de violência doméstica.

A cada dia que passa morre em média, um cidadão(ã) vitima directa de violência doméstica.
Sendo as mulheres o género muito mais exposto a este crime, não se pense que os homens são só os vilões, também existem mulheres que cometem violência sobre os companheiros e não raras vezes a morte.

Procurar causas ou estratos sociais para o problema até não é difícil, encontrar fórmulas que não se restrinjam ao direito penal e ao agravamento das penas parece coisa bem mais complicada.

O combate à violência doméstica deve ser feito a montante, compete ao estado encontrar mecanismos suficientemente dissuasivos, que permitam à vitima pôr-se a salvo do agressor antes que este possa consumar o homicídio.

Em muitos casos de morte consumada, o agressor já há muito que lançava um imenso rol de ameaças sobre a vitima, ameaças estas que cedo ou tarde se revelarão trágicas.

Ora é neste ponto, que devem ser criados mecanismos de protecção à vitima, de que vale haver um agravamento da pena quando o principal suposto beneficiário da justiça, já morreu?

Nem mesmo o facto de o crime ser considerado público, e como tal denunciável por qualquer cidadão, tem ajudado muito as presumíveis vitimas, j á que este é também um problema cultural, no nosso país, já diz o ditado "entre marido e mulher...", pois diz, mas é tempo de contrariar a vox populi, sob pena de nos tornar-mos cúmplices silenciosos desta hediondidade, que nos mancha de vergonha.

Achei curiosa a alusão que o pároco de Paços de Brandão, fez na homilia da missa de domingo, sobre o problema da violência doméstica.

Para o presbítero, a mulher que sofre deste tipo de violência é uma mártir e uma sofredora perante Deus, a questão é que a mulher e todas as vitimas da violência têm o direito, de não optarem pelo martírio terreno e de se verem livres da "cruz" dos homens, da justiça do estado Português e também da igreja católica até ao seu leito de morte.

Deus lá estará um dia, no reino da eternidade, a acolher todos os mártires da violência no seu regaço celestial.

Era importante reflectir sobre o papel displicente, culturalmente pouco pedagógico e quase condescendente com que a Igreja Católica aborda este tema.



PUBLICAÇÃO : O GADANHA

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