Linha do Vale do Vouga - 100 anos de história, que futuro? (Parte V)
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Nota : O que aqui procurarei expor nada tem que ver com projectos de expansão do metro do Porto e também não me parece de todo que o actual traçado da linha do Vouga, com bitola métrica, seja incompatível com outro qualquer projecto alternativo de transporte ferroviário.
A linha do vale do Vouga foi durante décadas, uma estrutura importante para desenvolvimento económico e social da região do entre Douro e Vouga. Os tempos hoje são outros, muito se tem falado em estratégias para a sua revitalização futura.
Qualquer estratégia que venha a ser definida para a sua sustentabilidade, deve estar assente em duas perspectivas:
- A prestação de um serviço público de transporte, adequado às necessidades das populações
- Exploração do seu potencial turístico, como factor de coesão regional, evitando assim uma maior assimetria entre os concelhos do EDV (entre Douro e Vouga).
A melhoria da qualidade na prestação do serviço de transporte, deve passar fundamentalmente, pela rapidez de deslocação e pela frequência de comboios de modo a reduzir os tempos de espera, só assim este meio de transporte poderá ser atractivo e procurado pelas pessoas.
Para se conseguir um nível aceitável nesta melhoria, não é necessário fazer investimentos acéfalos e megalómanos, como metros de superfície, ou complexos comboios suburbanos, é necessário no entanto proceder a algumas obras.
Desde logo, é importantíssimo colocar em execução o projecto de requalificação das passagens de nível, de modo a que estas não se tornem um factor perturbador, na fluidez do tráfego ferroviário.
A melhoria geral de toda a infraestrutura: substituição de carris e travessas, consolidação do balastro, correcção técnica de curvas de reduzido diâmetro.
Estudar a possibilidade de criar novas paragens. Uma delas, entre Paços de Brandão e Sampaio de Oleiros, na zona de Riomaior, ficaria a 200 m do Museu do papel, serviria alguma população de Santa Maria de Lamas e de Mozelos.
Uma pequena alteração ao traçado actual, logo depois do viaduto da A1, perto do apeadeiro de Riomeão, poderia permitir que a linha se aproximasse da área do futuro PEC, onde hoje, existe já uma zona industrial, com muitas empresas. Esta futura intervenção poderia servir igualmente a zona industrial da Silveirinha em São João de Vêr.
Em Espinho, é fundamental que o terminal da linha se desloque umas centenas de metros para Norte, de forma a permitir um acesso mais próximo com a estação de Espinho da Linha do Norte. Isto é possível, não é necessário fazer nenhum túnel, nem o investimento é de monta incomportável, basta deslocar uma passagem de nível algumas dezenas de metros. Naturalmente, que é também necessário criar uma nova infraestrutura condigna que cumpra a função de dar abrigo aos utentes em espera.
Outro factor que é importante, tem que ver com as condições do actual material circulante, é antigo e deve ser remodelado ou substituído por material moderno, mais rápido e confortável.
Não se podem esquecer os utentes, é preciso criar espaços de abrigo, com condições condignas para os utilizadores. Isto implica também a criação de zonas de estacionamento seguro em áreas próximas das estações, deve haver também uma estratégia de coordenação municipal de transportes que permita a complementaridade, ou seja, deve haver um serviço de transportes rodoviário que complemente o ferroviário, de modo a que as pessoas possam sem grandes transtornos, ter a facilidade de acesso aos locais onde o comboio não possa chegar tão perto.
Devem ser as pessoas a procurar o comboio, por tudo aquilo que ele pode ter de vantajoso e não o contrário, era especialmente prático que cada um de nós pudesse ter à saída de sua casa uma estação de comboio, mas a realidade não é assim.
Dar vida aos edifícios das estações, as estações actualmente,são locais ermos e que despertam algum receio nas pessoas, isto pode combater-se em primeiro lugar pelo restauro dos edifícios que actualmente estão a cair aos pedaços e também pelos arranjos exteriores de acesso, tanto na zona das plataformas como na envolvente.
Estes espaços depois de restaurados são potencialmente valorizáveis, se forem adaptados a pequeno comércio artesanal, à restauração, ou outro qualquer tipo de espaço comercial.
Por fim, sendo introduzidas estas melhorias ou outras que se julguem adequadas, é necessário apostar em campanhas de sensibilização para as vantagens do transporte ferroviário. Nenhuma medida que venha a ser adoptada terá algum interesse, se as pessoas não forem levadas a utilizar o comboio, como meio de transporte mais rápido, mais seguro, mais barato, mais prático e mais ecológico.
Mesmo com a introdução e execução destas melhorias, o comboio foi, é e deverá ser sempre visto, como um transporte de carácter social por excelência, não me parece que tenha forçosamente que dar lucro, porque visto dessa perspectiva económica, teria dificuldades em apontar uma linha que efectivamente fosse lucrativa, quanto muito deve essa linha ter a capacidade para se auto-sustentar nos custos e nos investimentos necessários. Por alguma razão a CP e a REFER são empresas de capital 100% público.
O Investimento que está aqui em causa não será assim tão elevado, se tivermos presentes as vantagens que daí possam advir para o futuro da exploração comercial da Linha do Vale do Vouga.
Numa outra perspectiva, esta linha pelas suas características muito pitorescas, tem um potencial turístico, que merece ser explorado. O troço entre Oliveira de Azeméis e a Sernada é lindíssimo inclusive, envolvendo o concelho de Sever do Vouga, era viável investir na reabertura de uma parte da antiga linha do Vale do Vouga que seguia para Viseu.
Refiro-me ao troço Sernada / Paradela do Vouga, tem um enquadramento paisagístico notável e espectacular, que poderia complementar a exploração turística de toda a linha, tornando-se na sua maior atracção. Solução esta aliás, que integraria o município de Sever do Vouga no âmbito da revitalização da via férrea. Sever do Vouga também é parte integrante dos municípios do EDV , como tal não deve ficar à margem de todo este processo. Esta seria uma forma inteligente de promover a coesão regional, num concelho que tem muito para oferecer em termos turísticos mas que tem sido votado ao esquecimento.
Outra medida que julgo interessante, para promover a dimensão turística do Vale do Vouga, é deslocalizar o núcleo museológico de Macinhata do Vouga, para a Sernada do Vouga, ou até para Paradela do Vouga. Tal como está hoje, esta espécie de museu ferroviário, não reúne condições condignas, para albergar o espólio histórico da linha do Vouga.
Todas as medidas que preconizo para o troço Espinho/Sernada do Vouga, são extensíveis ao ramal que segue para Aveiro.
PUBLICAÇÃO : O GADANHA
A linha do vale do Vouga foi durante décadas, uma estrutura importante para desenvolvimento económico e social da região do entre Douro e Vouga. Os tempos hoje são outros, muito se tem falado em estratégias para a sua revitalização futura.
Qualquer estratégia que venha a ser definida para a sua sustentabilidade, deve estar assente em duas perspectivas:
- A prestação de um serviço público de transporte, adequado às necessidades das populações
- Exploração do seu potencial turístico, como factor de coesão regional, evitando assim uma maior assimetria entre os concelhos do EDV (entre Douro e Vouga).
A melhoria da qualidade na prestação do serviço de transporte, deve passar fundamentalmente, pela rapidez de deslocação e pela frequência de comboios de modo a reduzir os tempos de espera, só assim este meio de transporte poderá ser atractivo e procurado pelas pessoas.
Para se conseguir um nível aceitável nesta melhoria, não é necessário fazer investimentos acéfalos e megalómanos, como metros de superfície, ou complexos comboios suburbanos, é necessário no entanto proceder a algumas obras.
Desde logo, é importantíssimo colocar em execução o projecto de requalificação das passagens de nível, de modo a que estas não se tornem um factor perturbador, na fluidez do tráfego ferroviário.
A melhoria geral de toda a infraestrutura: substituição de carris e travessas, consolidação do balastro, correcção técnica de curvas de reduzido diâmetro.
Estudar a possibilidade de criar novas paragens. Uma delas, entre Paços de Brandão e Sampaio de Oleiros, na zona de Riomaior, ficaria a 200 m do Museu do papel, serviria alguma população de Santa Maria de Lamas e de Mozelos.
Uma pequena alteração ao traçado actual, logo depois do viaduto da A1, perto do apeadeiro de Riomeão, poderia permitir que a linha se aproximasse da área do futuro PEC, onde hoje, existe já uma zona industrial, com muitas empresas. Esta futura intervenção poderia servir igualmente a zona industrial da Silveirinha em São João de Vêr.
Em Espinho, é fundamental que o terminal da linha se desloque umas centenas de metros para Norte, de forma a permitir um acesso mais próximo com a estação de Espinho da Linha do Norte. Isto é possível, não é necessário fazer nenhum túnel, nem o investimento é de monta incomportável, basta deslocar uma passagem de nível algumas dezenas de metros. Naturalmente, que é também necessário criar uma nova infraestrutura condigna que cumpra a função de dar abrigo aos utentes em espera.
Outro factor que é importante, tem que ver com as condições do actual material circulante, é antigo e deve ser remodelado ou substituído por material moderno, mais rápido e confortável.
Não se podem esquecer os utentes, é preciso criar espaços de abrigo, com condições condignas para os utilizadores. Isto implica também a criação de zonas de estacionamento seguro em áreas próximas das estações, deve haver também uma estratégia de coordenação municipal de transportes que permita a complementaridade, ou seja, deve haver um serviço de transportes rodoviário que complemente o ferroviário, de modo a que as pessoas possam sem grandes transtornos, ter a facilidade de acesso aos locais onde o comboio não possa chegar tão perto.
Devem ser as pessoas a procurar o comboio, por tudo aquilo que ele pode ter de vantajoso e não o contrário, era especialmente prático que cada um de nós pudesse ter à saída de sua casa uma estação de comboio, mas a realidade não é assim.
Dar vida aos edifícios das estações, as estações actualmente,são locais ermos e que despertam algum receio nas pessoas, isto pode combater-se em primeiro lugar pelo restauro dos edifícios que actualmente estão a cair aos pedaços e também pelos arranjos exteriores de acesso, tanto na zona das plataformas como na envolvente.
Estes espaços depois de restaurados são potencialmente valorizáveis, se forem adaptados a pequeno comércio artesanal, à restauração, ou outro qualquer tipo de espaço comercial.
Por fim, sendo introduzidas estas melhorias ou outras que se julguem adequadas, é necessário apostar em campanhas de sensibilização para as vantagens do transporte ferroviário. Nenhuma medida que venha a ser adoptada terá algum interesse, se as pessoas não forem levadas a utilizar o comboio, como meio de transporte mais rápido, mais seguro, mais barato, mais prático e mais ecológico.
Mesmo com a introdução e execução destas melhorias, o comboio foi, é e deverá ser sempre visto, como um transporte de carácter social por excelência, não me parece que tenha forçosamente que dar lucro, porque visto dessa perspectiva económica, teria dificuldades em apontar uma linha que efectivamente fosse lucrativa, quanto muito deve essa linha ter a capacidade para se auto-sustentar nos custos e nos investimentos necessários. Por alguma razão a CP e a REFER são empresas de capital 100% público.
O Investimento que está aqui em causa não será assim tão elevado, se tivermos presentes as vantagens que daí possam advir para o futuro da exploração comercial da Linha do Vale do Vouga.
Numa outra perspectiva, esta linha pelas suas características muito pitorescas, tem um potencial turístico, que merece ser explorado. O troço entre Oliveira de Azeméis e a Sernada é lindíssimo inclusive, envolvendo o concelho de Sever do Vouga, era viável investir na reabertura de uma parte da antiga linha do Vale do Vouga que seguia para Viseu.
Refiro-me ao troço Sernada / Paradela do Vouga, tem um enquadramento paisagístico notável e espectacular, que poderia complementar a exploração turística de toda a linha, tornando-se na sua maior atracção. Solução esta aliás, que integraria o município de Sever do Vouga no âmbito da revitalização da via férrea. Sever do Vouga também é parte integrante dos municípios do EDV , como tal não deve ficar à margem de todo este processo. Esta seria uma forma inteligente de promover a coesão regional, num concelho que tem muito para oferecer em termos turísticos mas que tem sido votado ao esquecimento.
Outra medida que julgo interessante, para promover a dimensão turística do Vale do Vouga, é deslocalizar o núcleo museológico de Macinhata do Vouga, para a Sernada do Vouga, ou até para Paradela do Vouga. Tal como está hoje, esta espécie de museu ferroviário, não reúne condições condignas, para albergar o espólio histórico da linha do Vouga.
Todas as medidas que preconizo para o troço Espinho/Sernada do Vouga, são extensíveis ao ramal que segue para Aveiro.
2 comentários:
Concordo com praticamente tudo... embora sonhar com metro ou comboio suburbano (e fazer alguma pressão para tal) nunca seja demais. Mas acho que falta uma coisa, que não diz directamente respeito ao Vouguinha. É fundamental a existência de uma ferrovia da Feira para o Porto (integrada com o Vouguinha para continuar a servir as populações mais a sul)... seja metro ou comboio. Poderá estar aqui a dinâmica que falta para dinamizar esta linha!
Estou completamente de acordo, desde que a integração dessa ferrovia para o Porto, não implique qualquer desmembramento do traçado actual da linha do vouga. Há aqui questões de timing que são importantes, mesmo que essa futura ferrovia de ligação ao Porto, estivesse disponível daqui por 10 anos (o que duvido), não era razoável nem de bom senso manter a linha do Vouga tal como está por mais 10 anos. Isso provavelmente implicaria a sua morte definitiva, se alguma coisa tiver que ser feito deve sê-lo já, para que num prazo máximo de 4/5 anos, possámos ter a linha do vouga modernizada e a servir as reais necessidades das pessoas.
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